ACT: quais as principais diferenças e semelhanças com a TCC?

A terapia de aceitação e compromisso (ACT) atrai cada vez mais atenção pelo seu caráter inovador e sua base teórica sólida. Classificada como uma abordagem cognitivo-comportamental de terceira onda, ela tem características específicas que a diferenciam da terapia cognitivo-comportamental (TCC) convencional.

A TCC é embasada no cognitivismo e defende que a origem do sofrimento e da queixa psicológica está nos esquemas cognitivos. Portanto o processo interventivo é direcionado à melhora desses aspectos.

Por sua vez, a ACT é embasada no behaviorismo radical ou contextualismo funcional e defende que todo comportamento, apesar de poder gerar sofrimento, é resultado de um processo de seleção - nos âmbitos filogenético, ontogenético e cultural - e, portanto, é adaptativo e funcional para aquele que se comporta.

A terapia de aceitação e compromisso não destaca uma origem causal por recorrer a interpretações interacionistas e não mecanicistas. Assim, o processo interventivo envolve o conhecimento - e autoconhecimento - das variáveis (históricas e atuais) de controle do comportamento para então desenvolver alternativas de enfrentamento das situações relacionadas com as queixas dos pacientes.

A terapia cognitivo-comportamental se apoia na ideia de que os transtornos psicológicos existem porque certos conteúdos internos são disfuncionais, ou seja, não estão de acordo com a realidade externa.

Esses erros de interpretação - distorções cognitivas - levam a sintomas emocionais, comportamentais e fisiológicos prejudiciais. Portanto a proposta terapêutica da TCC é modificar a forma como o indivíduo vê o mundo e, consequentemente, mudar seu comportamento para um mais adequado.

Já para a ACT, nada pode ser visto fora do seu contexto. Nessa perspectiva, não faz sentido rotular pessoas, pensamentos ou comportamentos como disfuncionais, errados ou patológicos por si só. Mas se tenta entender para que eles servem ou qual a função de qualquer coisa que a pessoa faça dentro do contexto que ela está.

Além disso, leva-se em consideração a vida que o indivíduo valoriza como critério para entender o quanto um comportamento está funcionando ou não. Esses valores são utilizados como critério de funcionamento e não critérios diagnósticos.

Na TCC, entende-se que certos pensamentos ou emoções são disfuncionais especialmente quando ocorrem em excesso ou trazem muito sofrimento para o indivíduo.

Um dos objetivos da terapia, então, é reduzir essas sensações, como ansiedade ou pensamentos obsessivos, por exemplo. A ideia é trazer a pessoa para um nível de funcionamento que é considerado não patológico.

Por sua vez, a ACT entende que o sofrimento faz parte da vida. Nessa visão, é natural se sentir ansioso, triste ou desanimado dependendo do contexto. Esses pontos só serão vistos como problemáticos quando impedirem a pessoa de viver a vida que ela considera significativa.

Mesmo assim, a proposta não é a de reduzir essas sensações para que então o sujeito possa fazer aquilo que gostaria, mas abrir espaço para esses conteúdos de modo que eles não o impeçam mais de agir.

A terapia cognitivo-comportamental busca combater pensamentos disfuncionais com o uso de técnicas que apontam as distorções cognitivas, ou seja, o quanto uma pessoa interpreta de maneira errada a realidade. O pressuposto é o de que, se o indivíduo mudar a forma de pensar, mudará também seu comportamento.

Às vezes, o caminho contrário é utilizado, ou seja, por meio de estratégias comportamentais, busca-se criar consciência sobre os pensamentos disfuncionais.

Na terapia de aceitação e compromisso, não se questiona o conteúdo dos pensamentos. Acredita-se que entrar num embate interno com a própria mente não traz uma solução definitiva.

Propõe-se, então, uma mudança na relação que se tem com os pensamentos e outros eventos internos. Um exemplo é a desfusão cognitiva, ou seja, o desenvolvimento de um eu observador que consegue notar o funcionamento da mente e fazer com que ela influencie menos os seus comportamentos.

A TCC é orientada para a resolução de transtornos psicológicos, ou seja, através de diagnóstico, levantamento de sintomas patológicos e sua correção com a utilização de técnicas comportamentais e cognitivas. O objetivo é que o paciente consiga funcionar melhor dentro daquilo que é visto como normal ou adequado.

Na ACT, a busca não é por resolução de problemas, mas por auxiliar a pessoa a viver mais próxima dos seus valores, ou seja, qualidades que ela gostaria que seu comportamento tivesse, tais como honestidade, dedicação, generosidade e coragem.

Os valores são o norte da terapia de aceitação e compromisso e são estabelecidos pelo indivíduo, não pelo terapeuta. O papel da terapia é aproximar a pessoa de seus valores e, ao mesmo tempo, trabalhar maneiras de conviver com o sofrimento natural da vida.

Mesmo com tantas diferenças, há vários pontos em comum entre a ACT e a TCC. Ambas são terapias objetivas, ativas, ajustadas para a necessidade de cada indivíduo, progressivas e preocupadas com a fundamentação científica.

As duas também são consolidadas e podem ser extremamente úteis no tratamento de dificuldades psicológicas e na promoção de uma vida melhor.