Cinematerapia no manejo clínico do bullying
02 de Janeiro de 2023
A cinematerapia ou a utilização de filmes no processo terapêutico é uma aliada no manejo clínico do bullying associada a diversas técnicas da terapia cognitivo-comportamental (TCC).
Os filmes são considerados importantes recursos lúdicos pelo despertar de interesse, discussão do tema, psicoeducação e intervenção sobre a temática.
Uma das opções cinematográficas que abordam o assunto é O galinho Chicken Little, personagem que causa pânico geral na comunidade quando confunde a queda do fruto de uma nogueira com um pedaço do céu, sofre bullying e está determinado a recuperar sua reputação.
Com base na história, técnicas cognitivo-comportamentais podem ser utilizadas no consultório com o público infantil.
O uso da criatividade, atrelado ao alicerce teórico da abordagem, favorece o psicoterapeuta a intervir de forma funcional e eficaz com crianças que estão vivenciando a temática como vítimas, mas também é útil para aquelas que são as agressoras.
PSICOEDUCAÇÃO
O processo inicial da cinematerapia baseada na TCC geralmente se dá por meio da psicoeducação sobre o bullying em que o terapeuta precisa entender como a criança interpreta o evento.
A partir de trechos do filme, o paciente pode ser conduzido a identificar tais aspectos no personagem do filme; em seguida, o profissional pode direcionar seus questionamentos para a própria criança.
O objetivo é compreender os fatores que possam ter iniciado o bullying e a interpretação do evento para o paciente.
AÇÕES E REPERCUSSÕES
O próximo passo é mostrar a cena inicial do filme e fazer referência à situação atual que a criança tem vivenciado. Pode-se construir uma história com o título: “O dia em que a coisa ficou feia”.
O terapeuta pode direcionar a discussão por meio de desenhos, encenações, fantoches ou produção de cartaz com colagens que sejam significativas e representem situações que o paciente vivenciou. O objetivo é pontuar as ações e repercussões do bullying.
Na sequência, para maior entendimento do caso, desenvolve-se com a criança uma lista de dificuldades pelas quais ela vem passando. Nela, o paciente pode escrever ou desenhar que tipo de agressão vem sofrendo e que ações (atitudes) os agressores vêm praticando.
OUTRAS TÉCNICAS
Com outras técnicas da TCC, a cinematerapia pode, ainda, trabalhar a reflexão sobre pensamentos e emoções que fazem parte do contexto da vítima; diminuir a autocrítica e a culpabilização; promover conhecimento sobre as ações que envolvem o bullying; identificar e compreender os personagens envolvidos.
Pode, também, facilitar a comunicação da vítima diante do bullying; estimular a comunicação real dos fatos; construir uma nova forma de agir em combate ao bullying; mapear a rede de relações de que a criança dispõe; trabalhar a resiliência diante dos fatos; trabalhar prevenção à recaída; desenvolver ação educativa com alunos, professores e pais no âmbito escolar.
LEITURA
O livro “Luz, câmera e ação: filmes na prática clínica infantil”, de autoria da psicóloga Vanina Cartaxo e colaboradores, é um recurso de intervenção ou estratégia complementar no processo terapêutico infantil.
Publicada pela Sinopsys Editora, a obra traz experiências de profissionais comprometidos com a infância e adolescência que, por meio de filmes, oferecem a outros profissionais uma base teórica aliada à instrução de uma proposta lúdica com todo o guia para execução de filmes na prática clínica.
Focadas na TCC, as temáticas apresentadas são: regulação emocional, luto, ansiedade, depressão, transtorno de déficit de atenção/hiperatividade, treinamento de pais, famílias reconstituídas, estereótipos e preconceito, habilidades sociais, psicologia escolar, bullying, psicologia positiva, resiliência, valores e esquemas.