DSM-5: principais mudanças em comparação à versão anterior
16 de Abril de 2021
Com o avanço das pesquisas em neurociência e a necessidade de otimização dos critérios diagnósticos, o DSM-5 (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais) traz importantes mudanças no modo de classificar, catalogar e diagnosticar as doenças mentais em relação às versões anteriores.
Esta quinta edição do DSM-5 apresenta várias alterações em relação à anterior, como a mudança do sistema de classificação multiaxial para dimensional, a fim de melhor abordar os sintomas como um continuum de intensidade, e a elaboração de critérios com maior especificidade para reduzir os diagnósticos sem outra especificação.
Na avaliação de especialistas, a abordagem dimensional de alguns transtornos mentais e o reconhecimento de que os limites entre eles são mais permeáveis do que se percebia anteriormente representam avanços importantes.
Embora alguns transtornos possam exibir limites bem-definidos, demarcando grupos de sintomas, a evidência científica recente já demonstrava que vários deles faziam parte de um espectro e apresentavam sintomas, fatores de risco ambientais e genéticos e possivelmente substratos neuronais compartilhados.
FUSÃO
Além de digerir melhor as observações científicas, uma abordagem dimensional captura melhor a sutileza da prática clínica. Nesse sentido, ocorreu, por exemplo, a fusão de Transtorno Autista, Transtorno de Asperger e Transtorno Global do Desenvolvimento no Transtorno do Espectro Autista.
Em vez de constituir transtornos distintos, os sintomas relacionados a esses transtornos representam um contínuo único de prejuízos com intensidades que vão de leve a grave nos domínios de comunicação social e de comportamentos restritivos e repetitivos.
Outro ponto importante foi a separação do Transtorno Bipolar dos Transtornos Depressivos. Anteriormente, ambos eram agrupados sobre o título de Transtornos de Humor.
No DSM-5, o bipolar foi inserido entre os capítulos sobre Transtornos do Espectro da Esquizofrenia e Transtornos Depressivos em função do reconhecimento de seu lugar como uma ponte entre essas duas classes diagnósticas em termos de história familiar, genética e sintomatologia.
Os pacientes com Transtorno Bipolar do tipo 2 também não são mais considerados portadores de uma condição mais leve que os do tipo 1. Isso por causa do reconhecimento de que passam mais tempo em depressão, o que gera grave prejuízo no funcionamento profissional e social.
Ainda no que diz respeito aos Transtornos Bipolares, um episódio hipomaníaco/maníaco que surge durante o tratamento com antidepressivo é considerado pelo DSM-5 suficiente para caracterizar um quadro de bipolaridade.
Por sua vez, o Transtorno de Pânico e a Agorafobia foram separados como diagnósticos independentes, reconhecendo a existência de casos nos quais a Agorafobia ocorre sem a presença de sintomas de pânico.
Além disso, a observação de que o ataque de pânico pode ocorrer como comorbidade em outros transtornos mentais além da ansiedade fez com que o DSM-5 o incluísse como especificador para todos os demais transtornos.
EXCLUSÕES
Assim como acrescenta informações, o DSM-5 exclui algumas categorias diagnósticas. Foram substituídas, por exemplo, as categorias de Abuso de Substância e Dependência de Substância por uma nova e mais abrangente, chamada de Transtornos por Uso de Substâncias, na qual a substância usada define o transtorno específico.
A medida serviu para diminuir os mal-entendidos, uma vez que "dependência" era facilmente confundida com o termo "adição". Mas a tolerância e a abstinência que previamente definiam dependência são, na verdade, respostas normais a medicamentos prescritos que afetam o sistema nervoso central e não indicam necessariamente a presença de uma adição.
O DSM-5 ainda abandonou a divisão da esquizofrenia em subtipos: paranoide, desorganizada, catatônica indiferenciada e residual. Os subtipos não refletiam diferenças quanto ao curso da doença ou resposta ao tratamento.
LIMITAÇÕES
Especialistas também apontam itens do DSM-5 que necessitam de aprimoramento. Um deles diz respeito à heterogeneidade e ao curso longitudinal dos transtornos psiquiátricos.
Na versão atual, isso ainda não foi plenamente possível porque a ciência não está madura o suficiente para proporcionar validadores científicos consistentes e sólidos acerca da trajetória longitudinal e dos determinantes da heterogeneidade dos transtornos mentais.
Entretanto já existem estudos em algumas áreas, como no Transtorno Bipolar, demonstrando que os transtornos mentais não são monolíticos e cursos diferentes com trajetórias diferentes provavelmente podem exigir abordagens diferentes.
Outro ponto que ainda precisa ser melhor estudado é a patofisiologia dos transtornos mentais. Na opinião de alguns especialistas, ela segue pouco clara e específica, considerando as classificações diagnósticas atuais. Mas como a Psiquiatria é uma ciência em constante evolução, possivelmente os próximos anos trarão maior luz ao entendimento dessas questões.