Ei, estudante! Bora conceitualizar um caso juntos?
11 de Maio de 2023
Na terapia cognitivo-comportamental (TCC), conceitualizar um caso significa traçar um panorama de como o paciente funciona e, a partir daí, propor o tratamento mais realista e eficaz.
A conceitualização clássica do psiquiatra norte-americano Aaron Beck, considerado o pai da TCC, baseia-se no modelo cognitivo, cujo pressuposto fundamental é de que a forma como cada um percebe e interpreta os eventos influencia suas reações emocionais, comportamentais e fisiológicas.
Essas interpretações são formadas por ideias ou imagens mais superficiais chamadas de pensamentos automáticos, que, por sua vez, estão intimamente ligados a regras, suposições, valores e crenças mais profundos, amplos e centrais na personalidade do indivíduo.
DIAGRAMA
Os aspectos relevantes da conceitualização proposta por Beck podem ser encontrados no diagrama de conceitualização cognitiva e servem como um mapa do funcionamento do paciente, de como ele desenvolveu suas dificuldades atuais e de quais são os caminhos para se chegar aos objetivos terapêuticos.
É importante ressaltar que esse diagrama é uma forma simplificada de organizar os dados de vida do sujeito para ser apresentada a ele com o objetivo de que compreenda mais facilmente seus processos cognitivos.
No entanto, para ser construído, o diagrama precisa da conceitualização completa e mais ampla, especialmente para dar conta de casos mais complexos ou com muitas situações a serem trabalhadas.
A partir do modelo clássico de conceitualização de Beck, outros modelos foram propostos e complementam teórica e praticamente o original. Alguns deles são o modelo do caldeirão, de Kuyken e colaboradores, e o de formulação de caso, de Wright e colaboradores.
PERGUNTAS A SEREM FEITAS
Entre as principais perguntas a serem respondidas na conceitualização do caso, estão: como o paciente desenvolveu seu transtorno, quais foram os eventos de vida, as experiências e as interações significativos, quais são suas crenças mais básicas sobre si mesmo, os outros e o mundo?
Constam também: que estratégias o paciente utilizou ao longo da vida para lidar com essas crenças negativas, que pensamentos automáticos, imagens e comportamentos ajudam a manter o transtorno?
E ainda: como suas crenças em desenvolvimento interagem com situações de vida para tornar o paciente vulnerável ao transtorno e o que está acontecendo na sua vida no momento e como ele está percebendo isso?
TRABALHO PERMANENTE
A conceitualização de caso é um processo permanente. À medida que novos dados clínicos importantes são trazidos, ela deve ser alterada e atualizada conforme necessário durante a evolução do tratamento.
Se a conceitualização cognitiva tiver embasamento frágil, as intervenções em terapia cognitivo-comportamental podem ser escolhidas e colocadas em prática de forma vaga, imprecisa e desastrosa, representando um prejuízo tanto para o trabalho do terapeuta quanto, principalmente, para o bem-estar do paciente.
DESAFIO PROFISSIONAL
Aprender a usar com eficiência a conceitualização de caso é um dos maiores desafios com que os profissionais da saúde mental se defrontam.
Segundo Beck, um terapeuta passa por três estágios relacionados a níveis de experiência. Em todos eles, a habilidade de fazer uma boa conceitualização de caso é requerida.
O estágio um engloba aprender a estruturar a sessão e utilizar técnicas básicas, como conceitualizar um caso em termos cognitivos a partir das informações iniciais.
Já o estágio dois engloba integrar a conceitualização com o conhecimento das técnicas psicoterapêuticas, refinando-a continuamente e direcionando a terapia para as metas identificadas.
E o estágio três engloba integrar mais automaticamente novos dados à conceitualização, formulando e reformulando hipóteses e estratégias para ajudar o paciente a reestruturar seu sistema de crenças, especialmente em casos mais complexos, como nos transtornos da personalidade.