Formulação de caso e conceitualização cognitiva
28 de Setembro de 2023
A formulação de caso e a conceitualização cognitiva (ou conceituação cognitiva), embora, muitas vezes, apareçam descritas como sinônimos, são tarefas diferentes dentro da terapia cognitivo-comportamental.
A formulação de caso é mais ampla e engloba a conceitualização cognitiva. Trata-se de um método e uma estratégia clínica para elaborar uma descrição do problema atual do paciente, uma compreensão de seus padrões mal-adaptativos, uma teoria sobre o porquê e como esses padrões se desenvolveram, bem como uma ou mais hipóteses de quais processos estão mantendo esses padrões ativos.
Além disso, antecipa os possíveis problemas e obstáculos no processo terapêutico, orientando o foco do tratamento. Também tem como funções reforçar a aliança terapêutica — por meio de um trabalho produtivo e da relação colaborativa — e preparar o paciente para o término da terapia.
É, portanto, um modelo necessário a ser seguido e um direcionamento a fim de guiar ao longo de todo o processo terapêutico, de forma a otimizar e/ou potencializar as intervenções e estratégias clínicas.
INVESTIGAÇÃO
Para que uma formulação de casos seja considerada eficaz, o terapeuta deve investigar determinados aspectos com seu paciente, tais como: o diagnóstico clínico, os problemas atuais enfrentados, os fatores estressores precipitantes dos mesmos, suas predisposições genéticas e familiares, seus pensamentos automáticos, suas crenças intermediárias e suas crenças centrais ou nucleares.
Em relação aos dados para inserir na formulação de caso, o profissional pode coletá-los de uma infinidade de fontes, como a entrevista clínica, as observações, a aplicação de escalas ou questionários e até mesmo as informações concedidas pelos familiares e/ou outros profissionais envolvidos no processo.
Uma vez construída a formulação de casos e colocada em prática, ela precisa ser constantemente revisada, e o terapeuta deve verificar se os sintomas estão remitindo, se os resultados estão sendo alcançados como esperado, se o paciente está aderindo bem às intervenções e se a aliança terapêutica está fluindo bem.
PADRÃO
Por sua vez, a conceitualização do caso faz referência específica ao padrão cognitivo do paciente, envolvendo seus pensamentos automáticos, suas crenças intermediárias e suas crenças nucleares.
A conceitualização clássica do psiquiatra norte-americano Aaron Beck, considerado o pai da TCC, baseia-se no modelo cognitivo, cujo pressuposto fundamental é de que a forma como cada um percebe e interpreta os eventos influencia suas reações emocionais, comportamentais e fisiológicas.
Os aspectos relevantes da conceitualização proposta por Beck podem ser encontrados no diagrama de conceituação cognitiva e servem como um mapa do funcionamento do paciente, de como ele desenvolveu suas dificuldades atuais e de quais são os caminhos para se chegar aos objetivos terapêuticos.
PERGUNTAS
Entre as principais perguntas a serem respondidas na conceitualização cognitiva, estão: como o paciente desenvolveu seu transtorno, quais foram os eventos de vida, as experiências e as interações significativas, quais são suas crenças mais básicas sobre si mesmo, os outros e o mundo?
Constam também: que estratégias o paciente utilizou ao longo da vida para lidar com essas crenças negativas, que pensamentos automáticos, imagens e comportamentos ajudam a manter o transtorno?
E ainda: como suas crenças em desenvolvimento interagem com situações de vida para tornar o paciente vulnerável ao transtorno e o que está acontecendo na sua vida no momento e como ele está percebendo isso?