Mindfulness: quais as origens da prática?
07 de Dezembro de 2022
Como mindfulness aborda algumas características universais da experiência humana, não surpreende o fato de que a essência da prática possa ser encontrada em todas as tradições de sabedoria contemplativa no mundo.
De fato, muitos participantes restabelecem uma conexão com a tradição da sua própria fé por meio da prática de atenção plena em um curso de terapia cognitiva baseada em mindfulness (MBCT, do inglês mindfulness based cognitive therapy).
No entanto, a filosofia que embasa a prática de mindfulness como ela é empregada dentro do protocolo MBCT é mais completamente articulada no budismo.
FORMA ACESSÍVEL
No desenvolvimento de mindfulness based stress reduction (MBSR), ou redução de estresse baseada em mindfulness, o médico norte-americano Jon Kabat-Zinn recontextualizou esses conhecimentos e práticas em uma forma acessível e adequada para a implementação em contextos institucionais contemporâneos.
O que ficou para trás foram os elementos religiosos, esotéricos e místicos da tradição, as influências orientais e a necessidade de crença prévia nos ensinamentos.
Em vez disso, as metodologias de ensino do MBSR/MBCT criam condições nas quais os participantes primeiramente investigam sistematicamente seu próprio sistema mente-corpo. Então essas observações derivadas da experiência são usadas como uma plataforma para compreender a natureza da mente-corpo.
No MBSR, os enquadramentos budistas são um aspecto de uma abordagem integrada que se baseia em outros enquadramentos e práticas teóricas. O MBCT herdou esses enquadramentos e ainda os integrou a teorias psicológicas contemporâneas.
FUNDAMENTOS
Três áreas principais do conhecimento e da metodologia budista contribuem para os vários enquadramentos que embasam o MBCT: os quatro fundamentos do mindfulness, as quatro verdades e os três marcos da existência.
Os quatro fundamentos do mindfulness oferecem uma forma de se engajar experiencialmente na natureza da mente e, assim, descobrir algumas características universais da mente humana. O trabalho envolve prestar atenção sistematicamente a diferentes aspectos da experiência.
Primeiro, mindfulness do corpo — aprender a depositar atenção em alguma experiência somática. Segundo, mindfulness dos sentimentos — descobrir o conhecimento imediato do agradável, do desagradável e do neutro e reconhecê-lo como o potencial precursor das emoções, dos pensamentos e dos comportamentos reativos.
Terceiro, mindfulness dos estados da mente — direcionar a atenção para os estados de humor, os impulsos e o estado da mente. E quarto, mindfulness dos processos e conteúdos da mente humana — trazer consciência e respostas habilidosas para as tendências úteis e inúteis inerentes na mente.
VERDADES
Por sua vez, as quatro verdades do mindfulness oferecem um enquadramento para investigar a experiência na primeira pessoa. Primeiro, reconhecendo que a insatisfação e o sofrimento são aspectos inerentes da experiência humana.
Segundo, vendo como os padrões reativos habituais de desejo são a causa do sofrimento. Terceiro, vendo o potencial para (momentos) liberdade de reatividade. E quarto, desenvolvendo o discernimento inteligente pelo cultivo de mindfulness e pelo engajamento em ações úteis na vida diária.
MARCOS
Enquanto as quatro verdades e os quatro fundamentos do mindfulness são sequencialmente desvendados e investigados por meio do programa de oito semanas, os três marcos (ou características) da existência emergem implicitamente durante o curso e são destacados e nomeados enquanto surgem naturalmente na experiência dos participantes.
Em essência, eles são o que as pessoas podem perceber enquanto fazem o trabalho (difícil) de se voltarem para a experiência pessoal.
LEITURA
A segunda edição do livro “Terapia cognitiva baseada em mindfulness”, de autoria da psicóloga britânica Rebecca Crane e publicada pela Sinopsys Editora, apresenta uma visão geral, totalmente atualizada, concisa e objetiva do protocolo MBCT.
O processo de treinamento que apoia o curso está baseado na prática de mindfulness e convida a estabelecer uma nova relação, caracterizada por aceitação e compaixão, com as experiências internas conforme elas surgem.
A abordagem reforça a compreensão de que, embora a dificuldade seja uma parte intrínseca da vida das pessoas, é possível trabalhar com ela de novas maneiras.
A obra oferece uma base para a compreensão dos principais aspectos teóricos e práticos do MBCT e mantém seu formato acessível, com 30 características distintivas que caracterizam a abordagem.
Tem como público-alvo profissionais experientes e aprendizes na área, psiquiatras, psicólogos, assistentes sociais, psicoterapeutas e outros profissionais que tenham interesse no assunto e desejam um guia sucinto.
O livro faz parte da série Características Distintivas, que convida os mais importantes clínicos e teóricos das principais terapias entre as terapias cognitivo-comportamentais a destacarem as características fundamentais e distintivas das abordagens que utilizam.