Neuropsicologia aplicada à criança e ao adolescente em risco
21 de Novembro de 2022
Crianças e adolescentes em situação de risco e vulnerabilidade social apresentam prejuízo no desenvolvimento cognitivo relacionado a problemas de comportamento, emocionais e sociais.
Maus-tratos na infância e adolescência têm sido vistos com efeito cascata no desenvolvimento emocional, social, neurobiológico e cognitivo. É um fenômeno multidimensional e representa uma falha no ambiente (família e sociedade) em prover necessidades básicas, com segurança e apoio.
ALTERAÇÕES CEREBRAIS
Traumas complexos vivenciados durante a infância e adolescência promovem alterações na estrutura e no funcionamento cerebral e déficits neuropsicológicos. Logo, crianças e adolescentes expostos à situação de violência podem sofrer impacto em seu funcionamento cerebral e desenvolvimento durante a vida.
A exposição contínua aos maus-tratos pode, portanto, contribuir cumulativamente para dificuldades educacionais. Além disso, conquistas acadêmicas podem diminuir com o aumento da gravidade do trauma nas vítimas, indicando que intervenções educacionais são necessárias e urgentes.
AVALIAÇÃO
A avaliação neuropsicológica permite mapear as forças e fraquezas cognitivas a fim de direcionar o processo de reabilitação neuropsicológica de maneira que ele possa formular quais funções devem ser reforçadas ou substituídas por outras, bem como planejar e executar as estratégias que compõem o plano de trabalho com esses pacientes.
Tais mapeamentos cognitivos permitem, ainda, auxiliar nas mudanças para a melhoria da qualidade de vida. Sendo assim, para reabilitar ou programar um treino cognitivo, é necessário avaliar em primeiro lugar.
ATUAÇÃO MULTIDISCIPLINAR
No Brasil, a avaliação neuropsicológica abrange um campo de atuação multidisciplinar destinado não apenas à compreensão da relação entre o funcionamento cerebral e o comportamento, mas também tem dado início para o estabelecimento de diversas estratégias de tratamento.
Entretanto, na realidade brasileira, são raros os estudos que ilustram a prática dessas avaliações e, consequentemente, o desenvolvimento de estratégias interventivas com crianças e adolescentes vitimizados.
Isso indica que é necessária uma equipe multidisciplinar para tratamento desses casos em que a avaliação neuropsicológica é imprescindível para o direcionamento adequado às diversas modalidades de atendimento.
Com esse tratamento, os pacientes poderão ter condições de se reintegrarem na sociedade e, de maneira saudável, exercerem seus direitos. Sem esse direcionamento, as dificuldades desses públicos tendem a se agravar e evoluir para casos mais graves de transtornos mentais e cognitivos.
Portanto, a avaliação neuropsicológica pode se tornar não somente uma ferramenta de auxílio diagnóstico e tratamento, mas também de promoção da saúde ao visar à detecção e à prevenção de dificuldades que podem ter grande repercussão no âmbito social.
LEITURA
Pesquisadores e clínicos que estão envolvidos de alguma forma em produzir uma melhor neuropsicologia infantil brasileira estão no livro “Avaliação neuropsicológica infantil”, organizado pela psicóloga Luciana Tisser e publicado pela Sinopsys Editora.
A obra apresenta discussões importantes sobre o uso de instrumentos de avaliação comportamental e emocional, fatores cada vez mais presentes nas abordagens clínicas com a garotada.