O problema mente e corpo e os sistemas complexos
03 de Março de 2023
Um dos precursores nas ciências cognitivas, o neurofisiologista russo Ivan Petrovich Pavlov (1849-1936) defendeu, durante toda sua vida, uma posição monista para o problema mente e corpo, criticando a posição dualista, animista e a visão teológica de seus contemporâneos.
Entre os defensores da ciência, ele distinguiu, ainda, os que mantinham uma visão mecânica clássica e os que viam a possibilidade de encontrar dentro de uma abordagem científica rigorosa um conceito satisfatório para as noções e os termos que utilizava: auto-organização complexa, adaptação, equilíbrio interno e equilíbrio externo.
Prêmio Nobel de fisiologia ou medicina em 1904 com estudos sobre o sistema digestivo, Pavlov estudou o condicionamento reflexo por mais de 30 anos. E defendeu que todo processo mental (consciente e inconsciente) é função do cérebro.
Entende-se que sua proposta foi “fundir o fisiológico ao psicológico, o subjetivo ao objetivo, onde a contradição dolorosa ou oposição entre meu corpo e minha consciência encontrarão uma solução concreta”.
MODERNAS NEUROCIÊNCIAS
Pavlov já foi apontado como precursor das modernas neurociências. Também pode ser apontado como um precursor da ciência dos sistemas complexos e, em ciências cognitivas, precursor da abordagem da cognição por meio dos conceitos de auto-organização e de sistemas complexos adaptativos.
Destacou-se, ainda, no domínio da cognição artificial (inteligência artificial, psicologia cognitiva, vida artificial etc.), como um precursor do movimento cognitivo ocorrido na metade do século 20 ao defender o ponto de vista do homem-sistema e de outros organismos complexos como um tipo de máquina: máquinas de auto-organização complexa.
Pavlov teve o mérito maior de ser um experimentalista antes de tudo, buscando sempre transformar teorias em hipóteses testáveis experimentalmente. O estudo da histeria analgésica e da transmissão hereditária de condicionamentos respondentes comprova sua abordagem experimental e uma agenda de pesquisa em psicologia de cunho monista.
Desse modo, é possível afirmar que a posição epistemológica de Pavlov seguiu uma trajetória naturalista e experimental, finalizando em um dos maiores cientistas do século 20.
LITERATURA
O livro “Temas em ciências cognitivas e representação mental”, organizado pelo psicólogo Ederaldo José Lopes e publicado pela Sinopsys Editora, apresenta uma discussão sobre aspectos históricos e epistemológicos na constituição da psicologia cognitiva e na sua sobrevivência a partir das relações travadas com os vários campos de estudos da mente, como a inteligência artificial, as neurociências e a filosofia da mente.
Os textos desta densa obra, escritos por autores nacionais e do exterior, vêm dar fôlego ao campo interdisciplinar e moderno das ciências cognitivas e da filosofia da mente na discussão sobre o tema da representação mental.
Tema central da psicologia cognitiva, a representação constitui-se, nos dias de hoje, numa área fronteiriça, inquietante para filósofos e cientistas, com importantes derivações que permitem ultrapassar o velho dualismo cartesiano.
Trata-se de uma obra ímpar, original e que serve de aprofundamento para psicólogos, filósofos, cientistas da computação e neurocientistas que se arvoram nessa odisseia chamada mente.