A abordagem da sexualidade na terapia de casal
22 de Julho de 2022
Na terapia de casal, várias são as origens da resistência de profissionais da saúde em abordar questões de sexualidade em consultas quando hão há uma queixa específica apresentada.
O receio de parecer conduta invasiva originária de curiosidade ou de mera dúvida que não parece associada à causa estimada do atendimento é uma delas, surgindo repetidamente em consultórios de psicologia.
As queixas básicas em terapia, no entanto, focam família, relacionamento social e de lazer, trabalho e sexualidade. Esses quatro pontos também são considerados os quatro pilares da qualidade de vida pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
Por sua vez, a World Association for Sexual Health (WAS), em sintonia com a OMS, preconiza que a saúde sexual é um estado de bem-estar físico, emocional, mental e social.
Está relacionada não apenas à presença ou à ausência de doença, mas, para ser alcançada e mantida, os direitos sexuais de todas as pessoas devem ser respeitados e cumpridos.
COMPLEXIDADE
Nesse contexto, é importante destacar que a aliança que une as pessoas é de uma complexidade muito mais ampla e profunda do que a sugerida pelo mero e casual encontro entre dois indivíduos.
Isso porque ocorre, por meio deles, um cruzamento entre heranças familiares e culturais que influenciam poderosamente no presente e futuro de ambos e de cada um.
Entre os cônjuges, há crenças e valores, motivações e objetivos, acordos e ajustes, sentimentos e emoções que necessitam encontrar ressonância na pessoa do terapeuta, independentemente do modelo psicoterapêutico adotado.
DESAFIO
A saúde sexual requer uma abordagem positiva e respeitosa das relações sexuais, bem como a possibilidade de experiências sexuais prazerosas e seguras, sem coerção, discriminação ou violência.
Aplicando esses princípios ao atendimento a casais, verifica-se que o retorno ao consultório decorre da constatação das diferenças de cultura, de gosto, de orientação sexual, de percepção de prazer e de papéis que imaginam encontrar no cônjuge. Explicitam-se as imagens e as expectativas na ação sexual do cônjuge.
Sendo assim, o profissional da psicologia, seja ele terapeuta de casal, individual ou de família, estará necessariamente desafiado a atuar na abrangência maior da família, dos relacionamentos social, do trabalho e sexual.
ASPECTOS ORGÂNICOS E OUTROS
A constituição da sexualidade reporta a aspectos orgânicos e da função sexual, mas questões como atividade profissional, relacionamentos, idade, religião, filhos e história conjugal são de extrema importância.
Pacientes com idades diferentes apresentam respostas diferentes; casamentos em que há religiões e percepções da sexualidade com expressão de valores díspares podem gerar inadequações e conflitos que, se não forem trabalhados, também corroboram para as disfunções sexuais.
LIVRO
"O casal diante do espelho e a reconstrução do vínculo do amor" é um livro que foi elaborado com o objetivo de preencher lacunas existentes na formação do terapeuta de casais.
Organizada pela psicóloga Iara de Lourdes Camaratta Anton e publicado pela Sinopsys Editora, a obra reúne contribuições teóricas e vinhetas clínicas no intuito de favorecer diversas reflexões sobre o assunto.
Tem como ponto forte o estabelecimento de uma ponte entre aspectos das terapias psicodinâmicas que tendem a ser negados ou a passar despercebidos em terapias de casal.
É fruto de estudo de série, consistente, e de longa experiência em psicoterapias (individual, casal e família).
A linguagem é clara acerca de temas e teorias que muitas vezes parecem distantes ou áridos demais. A complexidade não se apresenta como um desafio intransponível, mas como um convite à muita atenção, a questionamentos e reflexões.