Terapia de casal e violência psicológica no relacionamento
20 de Julho de 2022
A violência física constitui uma expressão mais visível da violência no relacionamento conjugal. Não se pode, no entanto, pensar na ocorrência da violência física sem a presença da violência psicológica, o que torna essa última ainda mais ampla e recorrente.
A violência psicológica no relacionamento é sutil, silenciosa e se revela por meio de xingamentos, humilhação, aviltamento, intimidação, controle, isolamento, ciúme patológico, indiferença às demandas afetivas, ameaça e situação de abuso físico e/ou sexual.
Os prejuízos emocionais causados por essas atitudes cotidianas podem imobilizar o outro, produzindo sofrimento tão nocivo ao psiquismo quanto aqueles causados pela violência física.
DINÂMICA
Talvez o maior desafio para terapeutas conjugais que trabalham com casais psicologicamente violentos seja compreender a dinâmica conjugal da violência.
A violência psicológica assume características relacionais uma vez que refere o modo como o casal se relaciona. Considerada de característica circular, transita mais entre os sexos do que outras expressões violentas e se estabelece na coautoria dos parceiros.
A ideia, portanto, é compreender os diferentes papéis que homens e mulheres desempenham em seus relacionamentos e como esse tipo de violência circula, fazendo com que o mesmo parceiro possa exercer ora o papel daquele que agride, ora daquele que é agredido.
ATENDIMENTO CONJUNTO
Outro ponto levantado mesmo por profissionais experientes em terapia de casal é quanto à indicação (ou não) de atendimento conjugal em situação de violência.
Nos casos em que há presença de violência física, com medida de ação judicial restritiva, o terapeuta propor o descumprimento da lei para atender o casal, por razões óbvias, não constitui uma postura profissional recomendada.
Casais violentos podem ser hábeis em burlar combinações, tarefas terapêuticas e até mesmo a lei. Nesses casos, sugere-se o atendimento de ambos, mas em processos psicoterápicos separados.
No entanto, quando se trata de violência psicológica, o atendimento do casal em um processo conjunto pode constituir-se na ampliação de possibilidades.
Tanto no que se refere ao estabelecimento de respeito quando ao desenvolvimento de um novo modelo de racionamento, mais saudável e funcional, independentemente do futuro dos parceiros como casal.
Se os cônjuges não reconhecem a disfuncionalidade relacional que vivenciam como violência, atribuindo ao temperamento/comportamento do outro os problemas vivenciados, o trabalho conjunto pode ser uma importante ferramenta, capaz de possibilitar a comunicação do que as condutas psicologicamente violentas tentam expressar.
A experiência psicoterápica em conjunto se mostra útil ao favorecer que os parceiros reconheçam a diferença entre uma relação conflitiva e uma relação psicologicamente violenta, com níveis de destrutividade que fere ambos.
LITERATURA
"O casal diante do espelho e a reconstrução do vínculo do amor" é um livro que foi elaborado com o objetivo de preencher lacunas existentes na formação do terapeuta de casais.
Organizada pela psicóloga Iara de Lourdes Camaratta Anton e publicado pela Sinopsys Editora, a obra reúne contribuições teóricas e vinhetas clínicas no intuito de favorecer diversas reflexões sobre o assunto.
Tem como ponto forte o estabelecimento de uma ponte entre aspectos das terapias psicodinâmicas que tendem a ser negados ou a passar despercebidos em terapias de casal.
É fruto de estudo de série, consistente, e de longa experiência em psicoterapias (individual, casal e família).
A linguagem é clara acerca de temas e teorias que muitas vezes parecem distantes ou áridos demais. A complexidade não se apresenta como um desafio intransponível, mas como um convite à muita atenção, a questionamentos e reflexões.