Ciclo de vida da mulher: disfunções sexuais femininas na terapia

A intervenção terapêutica nas disfunções sexuais femininas é principalmente psicológica. E, atualmente, mais holística, no sentido de integrar a terapia sexual em um contexto psicoterapêutico amplo, no qual é possível trabalhar outros aspectos além dos estritamente sexuais.

De uma forma geral, o termo disfunção sexual engloba todas as formas de vivências insatisfatórias no relacionamento sexual, desde a dificuldade em sentir prazer ou satisfação até a incapacidade de satisfazer o(a) parceiro(a).

Mas nem todas as dificuldades são verdadeiras disfunções. Determinados fatores circunstanciais ou individuais podem explicar alguns problemas sexuais no casal durante determinados períodos ao longo da vida.

Dificuldades no âmbito da relação sexual são situações frequentes ao longo da vida, e as disfunções, pelo contrário, são mais raras.

Considerando o caráter multifatorial da resposta sexual feminina, não é possível simplesmente identificar o sintoma e fazer uma intervenção isolada e alheada da pessoa e dos seus contextos (psicológico, social, cultural, relacional).

Por vezes, há indicações para uma psicoterapia individual prévia à terapia sexual, como em quadros de instabilidade do humor, perturbação da imagem corporal ou história de abuso sexual. Pode, ainda, ser necessário um encaminhamento para a terapia de casal.

Muitas técnicas terapêuticas não são específicas para determinada disfunção, outras sim. A intervenção terapêutica consiste na combinação mais adequada de técnicas para cada caso.

Na disfunção do interesse/excitação sexual, com frequência, a intervenção é no sentido de explorar inibições, desmistificar e derrubar crenças disfuncionais perpetuadas ao longo da vida, resultantes de uma socialização mais repressiva que impede a vivência livre do prazer sexual.

A reestruturação cognitiva permite questionar e modificar atitudes negativas. Por vezes, é necessária a intervenção em algumas dinâmicas na relação, especificamente para promover a comunicação sexual no sentido de o parceiro conhecer os estímulos que são mais adequados à mulher e preferidos por ela.

Podem, ainda, ser interessantes os exercícios de autoestimulação, com o objetivo de exploração e descoberta do corpo e do prazer num contexto individual.

Já na disfunção do orgasmo, as técnicas autoeróticas têm-se revelado particularmente úteis. Com a prática da masturbação, pretende-se que a mulher conheça a estimulação que necessita para aumentar a excitação sexual necessária para atingi-lo.

Por sua vez, a intervenção da disfunção da dor gênito-pélvica/penetração é ainda um desafio terapêutico e recomenda-se um enfoque multidisciplinar. É fundamental analisar a experiência da dor (tipo de dor, quando e como).

A abordagem terapêutica inclui informação sobre os aspectos biopsicossociais da dor, reestruturação cognitiva, modificação do estilo de coping, técnicas de relaxamento, exercícios de Kegel e utilização de dilatadores para dessensibilização progressiva com o objetivo de minimizar a dor ou o reflexo espasmódico condicionado.

A terapia sexual integra técnicas cognitivas e comportamentais em um programa de duração breve, com sessões semanais que podem oscilar entre oito e 16 semanas. Em alguns casos, pode ser um período maior, caso da perturbação gênito-pélvica/penetração.

Disfunções sexuais femininas na terapia e outros temas ligados ao ciclo de vida da mulher são abordados no livro "Ciclo de vida da mulher - Intervenção cognitivo-comportamental na saúde e na doença", organizado pelas psicólogas Tânia Rudnicki, Catarina Ramos, Ivone Patrão e Filipa Pimenta e publicado pela Sinopsys Editora.

Na obra, autores do Brasil e de Portugal, especialistas em diversas doenças, perturbações e condições femininas, apresentam suas experiências de intervenção cognitivo-comportamental em múltiplas situações que afetam as mulheres.

Trata-se de um conteúdo fundamental para psicólogos e outros profissionais que estudam e intervêm em problemas das mulheres.