O que é e como se aplica o modelo transteórico de mudança?
03 de Junho de 2022
O modelo transteórico de mudança (MTT) surgiu como uma tentativa de gerar uma abordagem integrativa e eclética a fim de prover uma estrutura coerente para as principais teorias sobre psicoterapia e mudança de comportamento.
Embora inicialmente sua aplicação tenha sido mais direcionada às adições, o trabalho pioneiro dos psicólogos norte-americanos James Prochaska e Carlo DiClemente tem demonstrado, por mais de quatro décadas, sucesso na aplicação do MTT a muitos comportamentos em uma ampla gama de contextos.
Diferentemente de outras abordagens, que estão focadas nas influências sociais ou biológicas do comportamento, o modelo transteórico de mudança oferece uma estrutura para compreender, medir e intervir na modificação do mesmo, enfatizando a intencionalidade.
TIPOS
Quando se fala em mudança de comportamento, é possível incluir três tipos: cessação, em que se busca cessar o comportamento (uso de substância é um exemplo); modificação, é o caso da relação com a alimentação, em que o objetivo é modificar hábitos; e iniciação, quando se busca a adesão a um novo comportamento saudável, como iniciar uma atividade física.
O MTT propõe a existência de diferentes construtos que atuam conjuntamente e se interinfluenciam durante a mudança comportamental.
Os estágios de motivação para a mudança, os processos de mudança, o grau de autoeficácia do indivíduo para mudar e manter a mudança e o grau de tentação que ele sente para voltar a emitir os comportamentos antigos são alguns desses conceitos.
Conforme a pessoa avança entre os estágios rumo à mudança efetiva de comportamento, mais aumenta a sua autoeficácia para a mudança e diminui sua tentação para manter o comportamento-problema.
O grau de autoeficácia está correlacionado indiretamente com o grau de tentação, ou seja, enquanto o nível de autoeficácia (para mudar determinado comportamento) de uma pessoa aumenta, o nível de tentação para voltar ao padrão anterior diminui.
AVALIAÇÃO
No modelo transteórico de mudança, a avaliação dos estágios de motivação para mudança pode ser feita por meio do uso de escalas, assim como pela própria escuta atenta do terapeuta sobre o que o cliente diz.
O tempo que o sujeito permanece em cada estágio é variável, porém as tarefas necessárias para progredir de um estágio a outro não são.
Por exemplo, no estágio em que a pessoa não reconhece o comportamento como um problema (pré-contemplação), é necessário levantar dúvidas, fazer com que ela possa aumentar sua percepção dos problemas causados pelo comportamento atual.
Quando o indivíduo está ambivalente (contemplação), deve-se buscar os riscos de não mudar, as razões para mudar e fortalecer a crença dele sobre as possibilidades da mudança.
No momento em que o cliente começa a pensar em como seria essa mudança (preparação), o papel do terapeuta é ajudá-lo a desenhar qual seria a forma mais apropriada de obter as mudanças que deseja.
Quando o sujeito dá os primeiros passos para modificar seu comportamento (ação), deve-se facilitar esse processo, auxiliando-o a tornar essa mudança um hábito.
Por fim, ajudar na construção de estratégias para manter o comportamento-alvo apesar das tentações (manutenção).
LITERATURA
O livro "Por que é tão difícil mudar? Contribuições do modelo transteórico de mudança do comportamento na prática clínica e na promoção de saúde" tem como organizadores os psicólogos Carlo DiClemente (um dos criadores do MTT), Margareth da Silva Oliveira, Raquel de Melo Boff e Milton José Cazassas.
Publicado pela Sinopsys Editora, reúne recentes resultados de pesquisa sobre a aplicação do modelo em vários contextos, as mais recentes estratégias de intervenção para avaliar as variáveis relacionadas a ele e ferramentas clínicas práticas para a implementação das intervenções.
A obra não só fornece orientação sobre como avaliar o estágio de mudança de um cliente, mas também como planejar e implementar as abordagens de tratamento corretas nos momentos certos para mobilizar os próprios processos de mudança que as pessoas usam em suas vidas diárias.
É um importante recurso para profissionais que querem combinar as intervenções com as necessidades dos seus clientes e, ao mesmo tempo, desenvolver fortes relações de colaboração que facilitarão mudanças significativas e duradouras.