Quais são as semelhanças e as diferenças entre TPB e TAB?

O TPB (Transtorno de Personalidade Borderline) e o TAB (Transtorno Afetivo Bipolar) compartilham algumas características, mas são distúrbios mentais diferentes. Tais semelhanças podem gerar confusão na hora do diagnóstico e da definição do tratamento adequado. Por isso, o profissional da saúde precisa estar muito atento.

"Trata-se de um dos diagnósticos diferenciais mais complexos que existem dentro do contexto clínico", afirma o psicólogo Vinícius Guimarães Dornelles, sócio-diretor da DBT Brasil e primeiro treinador de DBT (Terapia Comportamental Dialética) nativo de língua portuguesa do mundo.

Vinícius chama a atenção para o fato de que, quando analisados os critérios diagnósticos do DSM-5 (Manual de Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais) da APA (Associação Americana de Psiquiatria), TPB e TAB aparecem como transtornos totalmente divergentes. "Entretanto, na prática clínica, no mundo real, a avaliação desses pacientes é extremamente difusa e complexa", comenta.

Segundo o psicólogo, inclusive existem modelos teóricos que defendem que o diferencial entre o TAB do tipo 1 (quando o paciente alterna episódios de mania e depressão) e o TPB não é viável de ser feito. Isso porque entendem que todos os sintomas do TAB tipo 1 também se encaixam na personalidade borderline.

Entretanto, assim como há semelhanças, há diferenças importantes entre Transtorno de Personalidade Borderline e Transtorno Afetivo Bipolar. Conforme Vinícius, uma divergência central está no prognóstico. Enquanto no TAB é esperado que o paciente vá piorando ao longo do tempo, no TPB espera-se a redução de sintomas com o passar do tempo.

Outro diferencial citado por ele é que os pacientes com TPB têm os episódios de desregulação emocional vinculados a elementos de hipersensibilidade interpessoal. "Ou seja, o que ocorre em termos de comportamentos autodestrutivos ou de explosões emocionais está vinculado a contextos interpessoais. Essa é uma característica bem importante da personalidade borderline", frisa.

Também elencado como uma significativa diferença entre Transtorno de Personalidade Borderline e Transtorno Afetivo Bipolar está o fato de que, normalmente, no TAB, tanto o tipo 1 quanto o tipo 2 (quando o paciente alterna episódios de depressão e hipomania), os episódios de humor tendem a ser mais duradouros. Ou seja, são mais dias de duração do que no TPB, que tende a ser um pouco mais instável.

Vinícius reforça que, na prática clínica, fazer o diagnóstico do TPB é realmente complexo. Por isso, recomenda que a anamnese do indivíduo seja muito bem feita. "Se você tem a história de vida detalhada do paciente, com informações de terceiros importantes, fica mais fácil procurar o diferencial", ressalta.

Destaca, ainda, que existe uma hierarquia diagnóstica fundamental. O primeiro passo é procurar se o paciente tem ou não TAB. "Existe uma questão de raciocínio clínico que é extremamente importante: os transtornos da personalidade são transtornos de exclusão. Nós vamos excluir outros transtornos clínicos que tenham uma base biológica mais intensa para depois chegar dentro do diagnóstico dos transtornos da personalidade", explica.

Em alguns casos, conforme Vinícius, vai ser impossível fazer o diagnóstico, principalmente se o indivíduo estiver em fase ativa de mania. "É necessário que esse paciente esteja mais estabilizado para que se consiga identificar tais elementos da personalidade dele ou que se consiga ter esses elementos da história de vida dele para conseguir fazer esse diferencial", orienta.