Abuso: o papel da psicologia
04 de Fevereiro de 2022
Antigamente, por falta de conhecimento sobre o assunto e por se sentirem responsáveis pelo abuso, as vítimas, além de não formalizarem a denúncia, ficavam caladas e em sofrimento durante toda a vida.
Isso geralmente acarretava o desenvolvimento de transtornos mentais, traumas, esquivas de relacionamentos, interferências nas relações interpessoais e laborais, risco de suicídio, entre outros.
Hoje, com a evolução da psicologia, da psiquiatria e das pesquisas científicas, são encontrados tratamentos eficazes para quem passou por uma ou mais experiências de abuso.
ACOLHIMENTO
No atendimento a vítimas de abuso, cabe ao profissional da psicologia acolher e amenizar o sofrimento causado por esse tipo de violência, levando o paciente a encontrar ferramentas para lidar com suas emoções e sentimentos e superar possíveis traumas.
O apoio psicológico deve ser direcionado para cada indivíduo a partir das suas próprias demandas, da sua própria história, oferecendo um ambiente seguro e que transmita confiança.
Como o abuso não é considerado um diagnóstico psiquiátrico, mas uma condição vivida por alguém, não se sabe se gerará trauma, pois o desenvolvimento ou não de um transtorno dependerá de características próprias (internas e externas) do sujeito.
Mas é possível o desenvolvimento de distúrbios psicológicos. Em casos de abuso, os mais comuns são o transtorno de estresse pós-traumático ou a depressão, sendo o TEPT o mais prevalente. Nesses casos, a primeira escolha de tratamento é a terapia cognitivo-comportamental.
ENFRENTAMENTO
O terapeuta procura fortalecer a autoestima do paciente, bem como ajudar no processo de enfrentamento das consequências do abuso, ensinando repertórios comportamentais de regulação emocional e desenvolvendo outros de habilidades sociais a partir de uma escuta não julgadora, mas acolhedora.
Em muitas situações, além da psicoterapia, é necessária a combinação com a psicofarmacoterapia, o que envolve a participação do médico psiquiatra.
Atualmente, há substâncias muito eficazes que auxiliam na diminuição dos sintomas dos transtornos mentais. Entre esses medicamentos, estão os antidepressivos inibidores seletivos de recaptação da serotonina (ISRS).
PREVENÇÃO
Contribuir para a prevenção do abuso também é papel dos profissionais da psicologia. Nesse caso é importante destacar a importância de um trabalho com várias frentes de atuação, incluindo políticas públicas atuantes em apoio à comunidade, a fim de que ofereçam informação, bem como melhores condições econômicas, sociais e de saúde para as famílias.
O trabalho junto às escolas também é de extrema necessidade quando as vítimas do abuso são crianças e adolescentes, para que aprendam, por exemplo, os limites de seus corpos, o que deve ser tolerado ou não, a identificação da violência e onde podem buscar ajuda.
As ações de prevenção dos profissionais da psicologia englobam, ainda, atuação nas comunidades e famílias, orientando, identificando e notificando casos de abuso.
Em casos específicos, o psicólogo pode optar pela quebra de sigilo e compartilhar informações sem a concordância por escrito do paciente. Porém é importante lembrar que essa quebra de sigilo é um direito, não um dever.
Algumas situações desse tipo surgem quando há suspeita de risco à vida do paciente ou de terceiros; quando há violência doméstica em curso, negligência ou abuso de incapazes; e quando o psicólogo recebe uma ordem judicial.