Educação para surdos: desafios da realidade brasileira
17 de Junho de 2021
Mesmo com avanços na legislação brasileira, vários problemas persistem na educação para surdos desde o ensino básico ao superior. Tais obstáculos estão ligados, principalmente, à carência de intérpretes da Língua Brasileira de Sinais (Libras).
O impasse não é exclusivo do Brasil. De acordo com a Federação Mundial dos Surdos, 80% dos surdos do mundo todo têm problemas de alfabetização e baixa escolaridade, pois dependem da língua de sinais para se comunicar e obter informação.
A baixa escolaridade da comunidade surda também dificulta seu ingresso no mercado de trabalho. Conforme dados da Relação Anual de Informações Sociais (Rais), somente 0,8% das mais de 10 milhões de pessoas que declararam ter deficiência auditiva ao IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) trabalham com carteira assinada.
INTÉRPRETE
A atuação do intérprete da língua de sinais, portanto, é essencial na educação para surdos, pois, sem a sua presença, se torna impossível para esses alunos adquirirem conhecimentos e absorverem conteúdos ministrados na aula pelo professor ouvinte.
O objetivo não é apenas traduzir, mas buscar, juntamente com o professor, meios diferenciados de ensino para que o aluno surdo possa ser favorecido por uma aprendizagem especificamente elaborada e, consequentemente, eficiente.
Mais do que a presença do intérprete em sala de aula, é fundamental o envolvimento da comunidade escolar no processo, garantindo a efetividade do ato inclusivo.
Para que esse processo ocorra, é necessário criar um ambiente favorável no qual os alunos da comunidade surda possam desenvolver suas potencialidades, habilidades, competências e sua criatividade como qualquer outro aluno.
HISTÓRIA
Para entender os atuais desafios da educação para surdos, é preciso conhecer um pouco do contexto histórico que envolve essa comunidade.
As pessoas surdas foram recorrentemente excluídas do convívio social e da educação básica durante séculos, porque se acreditava que o pensamento não era desenvolvido sem a linguagem oral.
A exclusão se estendia inclusive a questões religiosas. Para a Igreja Católica, por exemplo, os surdos não podiam se salvar por não conseguirem confessar seus pecados.
Somente no século 17 é que surgiram as primeiras escolas de surdos na Europa. No Brasil, levou mais um tempo, pois o Imperial Instituto de Surdos Mudos, hoje, Instituto Nacional de Educação de Surdos (INES), foi fundado em 1857 no Rio de Janeiro.
Na atualidade, devido à quantidade de pessoas surdas, muitos são os alunos, mas poucos são os professores que realmente estão preparados para atendê-los.
Além disso, mestres e doutores com surdez defendem que o ensino de pessoas surdas deve ser responsabilidade de professores surdos, por vivenciarem sua realidade.
Entretanto a quantidade de docentes surdos com nível superior ainda é baixa justamente por causa da dificuldade de acesso à educação. Um dos caminhos para trabalhar a raiz desse problema, portanto, é o da educação escolar inclusiva.
LEGISLAÇÃO
De acordo com o Decreto nº 5.626/2005, as instituições de ensino brasileiras devem garantir, obrigatoriamente, às pessoas surdas acesso à comunicação, à informação e à educação nos processos seletivos, assim como nas atividades e nos conteúdos curriculares desenvolvidos em todos os níveis, etapas e modalidades de educação.
A determinação vale desde a educação infantil até a superior, sendo previsto o ensino da língua portuguesa como segunda língua para pessoas surdas. No entanto a realidade da educação para surdos no Brasil é outra.
O que há, geralmente, é um quadro de professores com falta de capacitação, tanto no ensino regular, quando na educação especial. Carência de recursos financeiros para a complementação pedagógica é outro obstáculo.
PROJETOS
Nesse sentido, é fundamental que escolas das redes públicas e particulares desenvolvam maior quantidade de projetos inclusivos capazes de proporcionar melhores condições de aprendizado aos surdos.
A educação para surdos também precisa abranger a formação profissional por meio de cursos técnicos/profissionalizantes e da inclusão nas universidades públicas e particulares.
Tais projetos devem garantir a presença de intérpretes de Libras nas salas de aula e recursos multifuncionais capazes de atenderem às necessidades específicas das pessoas surdas. O incentivo para que os colegas ouvintes recebam aulas da língua de sinais também é importante para possibilitar a comunicação e a integração.