Entenda o que é o luto pela perda gestacional

O luto pela perda gestacional ainda é um assunto tabu na sociedade que precisa ser desmistificado para uma melhor compreensão de todos. Para começar, a perda gestacional ou a perda neonatal se dá quando a gravidez é interrompida de forma espontânea quando o feto tem menos de 20 semanas ou um peso menor que 500 gramas.

Estatisticamente, essa remoção do embrião antes de atingir a viabilidade é bastante comum, afetando duas a cada dez gestantes que apresentam, quase sempre, históricos de alcoolismo ou tabagismo, assim como peso e idade avançados, aborto espontâneo prévio e fatores genéticos. Quadros clínicos de rubéola, hepatite B, HIV, sífilis e clamídia, entre outras infecções, também já foram apontados como responsáveis pela perda gestacional.

Vivenciando a maternidade desde o momento da descoberta da gravidez, as mães se veem perdendo não somente esse título, mas seu filho de forma súbita. Sem um corpo para velar em rituais simbólicos de despedida, enfrentam o luto pela perda gestacional muitas vezes sozinhas, de forma internalizada. Sem ter carregado o bebê nos braços, até mesmo seu papel de mãe acaba invalidado pela sociedade.

Sem receber uma estrutura empática para lidar com esse sentimento profundo de tristeza e pesar, as mulheres que sofrem uma perda gestacional tendem a ter a sua dor subestimada e diminuída, e o seu luto é silenciado. Negligências essas que podem gerar um luto patológico ou outros distúrbios, como a depressão e o TEPT (Transtorno do Estresse Pós-Traumático).

Buscando entender o sofrimento que advém do luto pela perda gestacional, não é saudável dizer para os pais que passam por esse processo que o feto ainda não era um bebê de verdade devido à pouca idade. Para muitos, a vida começa na concepção e afirmações como essa apenas irão invalidar a dor dos pais, trazendo pouco ou nenhum conforto.

Dizer que a perda neonatal ocorreu porque o bebê não estava destinado a nascer também não é aconselhável, especialmente durante o período do luto. Assim como apontar que casos de perda gestacional ocorrem com frequência. Ideias de destino ou estatísticas dificilmente irão amenizar o sofrimento dos pais. O luto pela perda gestacional precisa ser vivenciado em todos os seus estágios para que possa, eventualmente, ser aceito e superado.

Ainda que nenhuma palavra possa anular a dor da perda que está sendo vivenciada pelos pais, um `sinto muito’ sincero é um conforto. Usar o nome do bebê, reconhecendo sua existência, também é importante. Oferecer ajudas consistentes, como de fazer compras ou limpar a casa, são outras maneiras de mostrar para os enlutados que eles não estão sozinhos.

Quando o luto pela perda gestacional se transforma em luto patológico, os pais que sofreram a perda experenciam reações intensas que impedem o retorno à rotina, mesmo depois de passado um período de tempo considerável. Nesses casos, a psicoterapia pode ajudar, por ser um tratamento que busca a cura dos transtornos psicológicos e restabelecimento da saúde mental dos pacientes.

Ainda que não haja formações específicas voltadas ao luto pela perda gestacional, os profissionais têm acesso a especializações como `Psicoterapia para Pessoas em Situação de Luto’ e `Intervenção em Situações de Luto’. E, desse modo, estão aptos a oferecer tratamento, ajudando os pais a vivenciarem todos os estágios do luto e lidar com seus sentimentos.