Internação involuntária de pacientes com anorexia nervosa em situações extremas pode salvar suas vidas?
10 de Fevereiro de 2015
Internação involuntária de pacientes com anorexia nervosa em estado grave não é prejudicial para o seu processo de recuperação e alcança resultados positivos semelhantes aos de pacientes que foram internados voluntariamente. Isso de acordo com um novo estudo realizado pela Universidade de Haifa, em Israel. "Esta descoberta é muito importante e deve ser um marco para nova legislação permitindo o tratamento forçado de pessoas com anorexia cujas vidas estão em risco. O projeto de lei vai fazer a diferença entre a vida e a morte para esses pacientes", disse o Prof. Yael Latzer, da Faculdade de Assistência Social e Ciências da Saúde da Universidade de Haifa.
Anorexia nervosa afeta 0,5% a 1% das mulheres durante suas vidas, e cerca de um décimo deste número de homens, colocando a vida de pacientes em risco em casos graves da doença. Em casos extremos, o tribunal pode nomear um tutor, geralmente um dos pais, que pode concordar com a internação involuntária do paciente - um processo que resulta em poucos doentes efetivamente sendo hospitalizados à força, e mesmo assim eles podem deixar o tratamento após ter tido uma certa melhoria em sua condição.
O tratamento em casos extremos da doença requer a cooperação dos pacientes, e, sendo assim, um dos argumentos dos que se opõem à internação compulsória de pacientes com anorexia nervosa é que além da questão legal de liberdade de escolha, a internação involuntária seria um instrumento ineficaz que não vai melhorar as condições de saúde dos pacientes. Em fevereiro de 2012, foi encaminhado um projeto de lei que permite o tratamento compulsório dos pacientes com anorexia em condição de risco de vida, mas o processo legislativo foi interrompido com a mudança de gabinete e o projeto ficou parado.
No que diz respeito à questão constitucional, Latzer diz que anorexia é um problema mental grave e os pacientes com anorexia estão em um estado de desnutrição extrema. Esta condição é conhecida por prejudicar a capacidade cognitiva de pacientes para fazer julgamentos de si e de perceber corretamente a condição de risco de vida em que estão. Por isso, é muito importante ajudá-los a salvar as suas próprias vidas.
No presente estudo, realizado pelo Prof. Latzer, os pesquisadores procuraram examinar as reclamações relativas à ineficácia da internação involuntária e examinar se há uma diferença nos resultados entre os pacientes em condição extrema que foram obrigados a ser hospitalizados e aqueles que foram hospitalizados por vontade própria. Para fazer isso, 79 pacientes foram examinados na última década. Vinte e oito deles foram hospitalizados involuntariamente pelos tribunais e 51 foram hospitalizados por sua livre e espontânea vontade. Os dados clínicos (índice de massa corporal, ou IMC, pressão arterial, pulso e mais) na admissão dos hospitalizados involuntariamente foram semelhantes aos internados voluntariamente.
O estudo mostrou que ambos, o tratamento obrigatório e o tratamento voluntário, levam ao mesmo resultado positivo. De acordo com os pesquisadores, apesar da relutância declarada para receber o tratamento das pessoas involuntariamente hospitalizadas, sua resposta ao tratamento foi boa. Além disso, verificou-se que o tratamento compulsório poderia reduzir sentimentos de culpa em pacientes em relação a receber o tratamento adequado e a nutrição de que necessitam. Constatou-se também que o tempo de internação para ambos os grupos foi semelhante, assim como foi a taxa de mortalidade. Da mesma forma, os pacientes de ambos os grupos ganharam peso em uma taxa semelhante e uma porcentagem similar juntou programas de reabilitação após ser liberado do hospital.
"Este estudo confirma pesquisas anteriores de que a recusa de pacientes para receber tratamento e sua percepção do transtorno alimentar pode mudar durante o tratamento, mesmo nos casos de o paciente receber tratamento contra a sua vontade inicial. Embora a internação forçada seja complicada para o paciente, sua família e os funcionários, às vezes é necessária, a fim de salvar a vida do paciente. É nosso dever como sociedade fornecer tratamento obrigatório para pacientes até que eles sejam, mais uma vez, capazes de fazer julgamentos por si", concluiu Latzer.
FONTE: University of Haifa. (2015, January 12). Involuntary hospitalization of patients with anorexia nervosa in extreme situations can save their lives. ScienceDaily. Retrieved January 13, 2015 from