Necessidades emocionais: seu professor já falou a respeito?
30 de Março de 2023
O suprimento de necessidades emocionais básicas por meio de vínculos saudáveis é necessário para a saúde psíquica dos seres humanos conforme a terapia do esquema, desenvolvida pelo psicólogo norte-americano Jeffrey Young.
A base para essas demandas é construída na infância, sendo os pais ou outros responsáveis os principais provedores. Ao longo da vida, ganha importância o relacionamento com outras pessoas.
Caso essas necessidades emocionais não sejam supridas, podem surgir os esquemas desadaptativos, que levam a padrões de comportamento disfuncionais ou autodestrutivos, reforçando a ideia negativa que a pessoa tem dela própria.
Sendo assim, um ambiente familiar saudável, principalmente na infância, é essencial no desenvolvimento de esquemas adaptativos, ou seja, formas e modos saudáveis de enfrentar as situações adversas com equilíbrio adequado.
Já um ambiente nocivo traz como consequência a formação dos chamados esquemas iniciais desadaptativos, em que o enfrentamento de situações difíceis ocorrerá por meio de comportamento prejudicial.
ACEITAÇÃO E CONEXÃO
Aceitação e conexão estão entre as necessidades emocionais básicas dentro da terapia do esquema. As pessoas precisam sentir que são aceitas e importantes, acolhidas afetivamente. Necessitam, ainda, que suas solicitações de ajuda sejam atendidas, que sejam protegidas quando estiverem se sentindo vulneráveis e confortadas quando assustadas.
Adultos que não tiveram essas necessidades supridas na infância, geralmente, se sentem abandonados, menosprezados e não conseguem estabelecer vínculos estáveis com os outros.
Consequentemente, acabam se envolvendo em relacionamentos destrutivos e destinados ao fracasso. Acreditam que não se adequam à sociedade e que não são bons o suficiente. Sentem-se inferiores e indignos de receberem carinho e afeto. Dessa forma, acreditam que quem está à sua volta irá abandoná-los ou magoá-los, tendendo a se isolarem socialmente.
AUTONOMIA E COMPETÊNCIA
Também entre as necessidades emocionais básicas, estão autonomia e competência. Para irem em busca da realização de conquistas e sonhos, os indivíduos precisam conhecer suas habilidades e competências.
Para isso, é fundamental que os caminhos sejam mostrados a eles e que haja motivação para se arriscarem. Se tiverem auxílio e suporte apropriados, mais facilmente buscarão independência e realização pessoal.
As necessidades que se encontram nesse domínio são de orientação, apoio e auxílio na execução de tarefas, nos estudos, para enfrentar e resolver problemas cotidianos. Ao mesmo tempo, incluem autonomia e incentivo para enfrentar desafios de forma independente.
Por exemplo, quando os pais ou cuidadores cercam uma criança de cuidados excessivos e assumem suas tarefas, impedindo o desenvolvimento da sua independência e autonomia, muito possivelmente ela se tornará um adulto com dificuldade para resolver seus problemas sozinho, tomar decisões e assumir responsabilidades. Consequentemente, se sentirá fracassado e incompetente.
LIMITES REALISTAS
Limites realistas são outras necessidades emocionais básicas que precisam ser supridas. A frustração faz parte da vida e é inegável a importância de as pessoas aprenderem limites, regras e acordos. Ao mesmo tempo, no entanto, é necessário cuidado com a flexibilidade ou a rigidez em demasia, para não soarem como passividade ou hostilidade.
Tais necessidades consistem, por exemplo, em ensinar para a criança de maneira firme, porém afetuosa e compreensiva, o que é certo ou errado e a respeitar as emoções e o espaço das demais pessoas.
Quando os cuidadores são excessivamente tolerantes e permissivos, esse filho pode se tornar um adulto arrogante, inconsequente, egocêntrico ou narcisista, que não respeita regras nem o espaço dos outros, pois acredita ser digno de benefícios diferenciados. Por não tolerar fracasso, muitas vezes, foge de responsabilidades e situações conflituosas.
ESPONTANEIDADE E LAZER
Ainda entre as necessidades emocionais básicas, constam espontaneidade e lazer. As exigências, os compromissos, as condutas éticas e os ideais precisam ser respeitados. Contudo, os momentos de lazer e descontração, o cuidado com a saúde e com os relacionamentos interpessoais, assim como os momentos de felicidade e de autoexpressão, são fundamentais.
De nada adianta os pais ou outros responsáveis sentirem-se realizados porque o filho vai bem na escola e faz inúmeras atividades extracurriculares se ele não tiver espaço e tempo para curtir as sensações agradáveis e aproveitar os momentos leves da vida.
Uma infância com cuidadores hipercríticos e rígidos, em um ambiente familiar com alto nível de cobrança e escasso espaço para espontaneidade e lazer, faz com que uma criança se torne um adulto com pensamentos e ideias pessimistas e negativas, sempre indeciso, preocupado e apreensivo.
Trata-se de um indivíduo que não consegue expressar suas emoções e seus sentimentos por receio de ser julgado e visto como distante, insensível, frio, reservado ou indiferente. Desenvolve padrões rígidos e inflexíveis quanto às próprias realizações, a si mesmo e às outras pessoas.
LIBERDADE DE EXPRESSÃO E EMOÇÕES VÁLIDAS
Liberdade de expressão e emoções válidas são outras necessidades emocionais que precisam ser supridas. Todas as pessoas têm o direito de se posicionarem, opinarem, de pedirem pelo que necessitam emocionalmente e serem atendidas. Não devem ser instruídas e nem concordarem em ficar caladas porque não é adequado ou porque alguém reprovará.
Para ajudar as crianças com essas necessidades, os pais precisam evitar expectativas exigentes de como deveria ser o temperamento delas e aceitarem a forma como reagem, tentando acolher suas reações emocionais.
É como se dissessem a elas que entenderam porque estão reagindo daquela forma e que, além de tentar resolver o problema, vão ajudar a controlar o desconforto dessas emoções negativas. Isso não é feito só com palavras, mas, principalmente, por meio de gestos e atitudes.
Quando essa necessidade é atendida, os pequenos têm condições de controlar melhor suas emoções (regulação emocional) e passam a confiar na sua própria capacidade de lidar com emoções negativas, o que se refletirá também na vida adulta.