O que é a DBT ou terapia comportamental dialética?

Desenvolvida a partir da década de 1970 pela psicóloga norte-americana Marsha Linehan, a terapia comportamental dialética, mais conhecida como DBT (do inglês dialectical behavior therapy), foi originalmente concebida para tratar pessoas cronicamente suicidas com transtorno da personalidade borderline (TPB).

Uma das chamadas terapias contextuais, a DBT atualmente tem sua efetividade comprovada no tratamento de uma série de outros transtornos, como: alimentares, relacionados ao uso de substâncias, depressivo maior, humor bipolar, estresse pós-traumático, do déficit de atenção/hiperatividade e desafiador de oposição.

TEORIA BIOSSOCIAL

A terapia comportamental dialética está baseada em uma teoria biossocial transacional da etiologia dos problemas de regulação do afeto do transtorno da personalidade borderline.

Indivíduos com uma vulnerabilidade emocional biológica criados em ambientes que invalidam sistematicamente suas experiências internas e comportamentos manifestos desenvolvem déficits na capacidade e na motivação para manejar suas emoções e outros aspectos da vida.

Os programas da DBT abordam de forma abrangente esses déficits, fornecendo um tratamento multimodal em estágios que foca toda a gama de transtornos comórbidos de forma hierárquica.

PRINCÍPIOS

A terapia comportamental dialética enfatiza particularmente três princípios dialéticos referentes à natureza da realidade, ou seja, que a realidade é inter-relacionada ou sistêmica, opositora ou heterogênea e está em contínua mudança.

No que diz respeito à inter-relação, para analisar os fatores que mantêm o comportamento problemático, o terapeuta da DBT considera dois níveis básicos em que o cliente pode experimentar disfunção dentro dos sistemas que influenciam.

O primeiro nível inclui sistemas sobrepostos e mutuamente influentes dentro do indivíduo, como os sistemas bioquímicos, de regulação afetiva e de processamento da informação.

O segundo nível envolve os muitos sistemas interpessoais, como a família e a cultura, e outros sistemas ambientais que influenciam o comportamento.

Portanto, para obter uma compreensão acurada do comportamento do cliente, o terapeuta da DBT precisa avaliar essas influências, além dos fatores biológicos e psicológicos.

OPOSIÇÃO

A dialética também foca a atenção na complexidade do todo. A realidade não é estática, mas consiste de forças opostas em tensão, a tese e a antítese.

O desenvolvimento ocorre à medida que essas oposições prosseguem em direção à síntese e quando um novo conjunto de forças opostas emerge da síntese.

Na terapia comportamental dialética, podem surgir tensões no cliente, no terapeuta, entre cliente e terapeuta ou entre terapeuta e o sistema de tratamento mais amplo.

Para resolver os conflitos, o terapeuta busca as sínteses, sendo as mais efetivas geralmente aquelas que validam algum aspecto de ambos os lados do debate e evoluem para um comportamento mais efetivo.

MUDANÇA

A dialética destaca a mudança como um aspecto fundamental da realidade. Mudança é a própria essência da experiência, e tanto o indivíduo quanto o ambiente estão em contínua transição para um processo de oposição que se resolve por meio da síntese.

Em certa medida, todas as terapias estimulam mudança, mas elas diferem no tipo de mudança que promovem e em que grau.

Devido ao seu pressuposto de que as vidas dos clientes são atualmente insuportáveis para eles, a DBT foca claramente na mudança.

Além de influenciar a mudança no comportamento do indivíduo, o tratamento permite ao terapeuta ampla liberdade para também mudar.

TREINAMENTO DE HABILIDADES

A terapia comportamental dialética integra estratégias da terapia cognitivo-comportamental (TCC) com aspectos da prática zen, utilizando a filosofia dialética para sintetizar essas duas perspectivas contrastantes em um conjunto coerente de princípios do tratamento.

Um dos aspectos mais conhecidos da DBT é o currículo de treinamento de habilidades. São quatro módulos divididos em dois grupos: habilidades de aceitação e de mudança. A meta é munir o paciente de ferramentas necessárias para lidar e modificar sua desregulação emocional.

No grupo de habilidades de aceitação, estão inclusos o módulo mindfulness (atenção plena) e o módulo de tolerância ao mal-estar. Já no grupo de habilidades de mudança, constam o módulo de efetividade interpessoal e o da regulação emocional.