Psicologia cognitiva e terapias cognitivo-comportamentais

Embora não tenham tido origem na psicologia cognitiva, as terapias cognitivo-comportamentais se beneficiaram da atmosfera histórica propiciada pelo desenvolvimento da mesma e buscam constantemente a aproximação com esse vasto campo.

De maneira geral, aponta-se que as TCCs representam um importante avanço no entendimento das psicopatologias e se apresentam como as modalidades de intervenção mais amparadas por achados literários.

As aproximações entre a psicologia cognitiva e as terapias cognitivo-comportamentais são válidas na busca de uma abordagem integradora do funcionamento cognitivo, das psicopatologias e das psicoterapias.

No que se refere aos pressupostos ontológicos e epistemológicos, pode-se afirmar que essa aproximação se mostra mais consolidada.

A afeição das TCCs aos modelos representativos, ao método hipotético-dedutivo, ao racionalismo crítico e aos métodos de pesquisa experimental nutre o diálogo amplo entre as duas áreas, permitindo o fortalecimento da inter-relação por ambos os lados.

Porém, ainda são poucos os trabalhos que expandem essas pressuposições para as práticas aplicadas ou que buscam desenvolver esses pressupostos.

Nesse sentido, é importante que tais pressuposições estejam mais presentes nos ambientes de formação e nas práticas dos terapeutas.

Tal fortalecimento seria importante para fundamentar ainda mais as bases das técnicas cognitivas e comportamentais, além de auxiliar na revisão das críticas geralmente feitas às TCCs que apontam essas abordagens como meros processos de aprendizagem constituídos por conjuntos de técnicas.

Já no que se refere ao desenvolvimento da teoria cognitiva, muito ainda necessita ser trabalhado para melhorar a aproximação entre essas duas áreas.

Mesmo com a importância do desenvolvimento da teoria cognitiva, há de se considerar que a escolha pela criação de novos processos que compuseram essa teoria foi feita muito mais a partir de desenvolvimentos clínicos do que de aproximações com a então recente psicologia cognitiva.

Tal perspectiva fez com que os processos criados pela teoria cognitiva se encontrassem em um vazio teórico inicial, constituídos mais por hipóteses e axiomas do que por observações experimentais.

Assim, conceitos como pensamentos automáticos e crenças centrais não encontraram correspondentes imediatos na literatura da psicologia cognitiva nos quais pudessem se apoiar, por mais que reflexões e aproximações fossem possíveis.

Outro problema é a lentidão com que a teoria cognitiva se desenvolve, particularmente por ser pautada por observações clínicas que necessitam ser sistematizadas e cautelosas, geralmente prejudicadas em ambientes de simulação laboratorial pela perda do contexto ecológico.

Nesse sentido, o diálogo entre essas áreas é prejudicado, pois a psicologia cognitiva desenvolve mais rapidamente seus modelos teóricos por contar com o apoio da experimentação laboratorial.

O livro “Psicologia cognitiva: teoria, modelos e aplicações”, organizado pelos psicólogos Gustavo Gauer e Luciana Karine de Souza e publicado pela Sinopsys Editora, oferece conteúdo produzido por autores brasileiros representativos da consolidação da área no país, como professores e pesquisadores atuantes.

Os temas são tratados de uma maneira voltada às expectativas da realidade nacional no ensino de processos psicológicos básicos (PPBs) na graduação e pós-graduação.

A obra apresenta questões cruciais sobre teoria e epistemologia da ciência cognitiva, modelos fundamentais de PPBs, incluindo diferentes sistemas de memória, resolução de problemas e tomada de decisão, assim como relações com outros campos psicológicos, de domínios correlatos, como desenvolvimento, personalidade e terapias cognitivo-comportamentais.