Psicoterapia com crianças e adolescentes: depressão
01 de Novembro de 2022
Na psicoterapia com crianças e adolescentes, alguns dos programas de tratamento da depressão com maior apoio empírico são a terapia do autocontrole e o curso para enfrentar a depressão (CEDA).
A depressão na infância e adolescência caracteriza-se por humor deprimido e/ou por dificuldade em sentir prazer. Tais sintomas se manifestam juntamente com mudanças relacionadas ao sono, ao apetite e ao peso, dificuldades para tomar decisões, sentimentos de inutilidade ou de culpa e ideias de morte.
Embora sua apresentação possa ser similar à dos adultos, o humor depressivo na população infantojuvenil costuma se manifestar principalmente por irritabilidade, manhas e dificuldades em alcançar o peso esperado para a idade.
Nas crianças, preponderam os sintomas ansiosos (ansiedade de separação e fobias), as queixas somáticas, a irritabilidade e os problemas de conduta. Nos adolescentes, observam-se mais alterações do sono e do apetite e tentativas de suicídio.
TERAPIA DO AUTOCONTROLE
A terapia do autocontrole preenche os critérios de tratamento provavelmente eficaz. Ela é dirigida à faixa etária dos 9 aos 13 anos com diagnósticos de depressão unipolar, distimia e humor depressivo. Seu programa foi projetado para ser implementado tanto em formato de grupo como em formato individual.
Os principais objetivos da terapia do autocontrole são: ativação comportamental, por meio da programação de atividades prazerosas; aprendizagem de habilidades de enfrentamento e de resolução de problemas para a abordagem de dificuldades cotidianas; e a reestruturação cognitiva, visando gerar uma mudança na perspectiva que a garotada tem do mundo, do futuro e de si mesma.
O programa inclui 18 sessões com o paciente e 11 com a família. As sessões familiares têm início depois do quarto encontro com a criança. Durante as primeiras quatro semanas, a frequência é de duas entrevistas semanais com as quais se busca proporcionar um maior alívio da sintomatologia. A partir da quarta semana, a frequência diminui para um encontro semanal. O objetivo é oferecer ao paciente tempo suficiente para a prática.
As intervenções terapêuticas se apresentam em diferentes etapas divididas segundo o acrônimo action (ação): always do something to feel better (sempre faça algo para se sentir melhor); catch the positive and let the negative go (persiga o positivo e deixe de lado o negativo); think of it as a problem to be solved (pense sobre isso como um problema a ser resolvido); inspect the situation (investigue a situação); open yourself to the positive (abra-se ao positivo) e never get stuck in the negative muck (não se apegue a um pensamento negativo).
CEDA
Por sua vez, o CEDA é um programa psicoeducacional para adolescentes que surgiu como uma adaptação do curso de enfrentamento de depressão para adultos. Inicialmente, o tratamento foi feito sob a forma de dispositivo grupal com jovens e, a seguir, foram feitas adaptações para que ele fosse conduzido no formato individual.
Considerando a multiplicidade de fatores que intervêm na sintomatologia depressiva, o CEDA propõe a redução dela por meio de diversas vias: modificação das ações, das emoções, dos pensamentos ou mesmo do ambiente.
O programa compreende cinco módulos de treinamento em habilidades necessárias para enfrentar a depressão: reestruturação cognitiva, terapia comportamental, resolução de problemas e habilidades de comunicação, treinamento em relaxamento e estabelecimento de objetivos.
LEITURA
A partir de exemplos clínicos e comentários explicativos, o livro “Sessões de psicoterapia com crianças e adolescentes: erros e acertos” aborda os momentos fundamentais da terapia com o público infantojuvenil: admissão, entrevistas iniciais, intervenção terapêutica e encerramento.
Organizada por Eduardo Bunge, Mariano Scandar, Francisco Musich e Gabriela Carrea e publicada pela Sinopsys Editora, a obra também apresenta os procedimentos para os transtornos habituais nessas faixas etárias: de ansiedade, do humor e problemas de conduta.
Em suas páginas, nota-se que diversos problemas e desafios são inevitáveis na complexa clínica infantojuvenil e que a criatividade e a flexibilidade do profissional são chaves para a resolução de problemas.
Nesse sentido, ao ilustrar com clareza e precisão a interação entre técnica e processo, o livro alcança o objetivo de compartilhar com o leitor o ingrediente humano imprescindível para se colocar em prática as terapias baseadas em evidências.