Qual a importância da avaliação neuropsicológica na infância e na adolescência?

A neuropsicologia é uma especialidade de caráter interdisciplinar que relaciona os conhecimentos científicos das áreas de neurociências e psicologia. Ela busca compreender as funções do sistema nervoso e as suas relações com o desenvolvimento e funcionamento cognitivo, comportamental e emocional, bem como mapear as potencialidades e os déficits nessas habilidades e o impacto destes nas atividades cotidianas do indivíduo. Além disso, a neuropsicologia também tem como objeto de estudo a compreensão do desenvolvimento típico, dedicando-se à seleção e elaboração de ferramentas adequadas para a investigação de processos cognitivos específicos com a maior acurácia funcional possível.

Dessa forma, ao realizar uma avaliação neuropsicológica, o neuropsicólogo utiliza instrumentos especificamente padronizados e validados, entre eles: testes, escalas ou tarefas neuropsicológicas. Também é necessário realizar um raciocínio clínico complexo que envolve uma sucessão de etapas dinâmicas. Tais como: conceitualização clínica, teste de hipóteses e a integração dos resultados e informações para fins de diagnóstico e orientação do paciente e dos cuidadores.

    

A avaliação permite mapear o funcionamento cognitivo, contribuindo para a elaboração e execução de programas tanto de estímulo e prevenção quanto de reabilitação neuropsicológica em indivíduos com demandas associadas a condições neurológicas específicas ao longo do ciclo vital. Auxiliando no processo de melhoria da qualidade de vida. Desta forma, para reabilitar ou programar um treino cognitivo, é necessário em primeiro lugar, avalia-lo. Esse processo sempre será planejado de acordo com a demanda do paciente, exigindo ao neuropsicólogo constante atualização profissional, formação continuada e grande repertório experimental e clínico.

A avaliação neuropsicológica também pode beneficiar o processo psicoterápico, visto que, pode disponibilizar indicações ou adaptações de procedimentos a partir de um melhor entendimento do perfil neurocognitivo dos pacientes. Ou seja, a avaliação neuropsicológica contribui com a identificação de pacientes que, devido a seu funcionamento neuropsicológico, poderiam ter maior benefício com uma intervenção psicoterápica específica ou de uma adaptação das técnicas existentes, visando ampliar sua eficácia e generalização. O que ilustra a importância de psicólogos clínicos também buscarem conhecimento sobre a atuação do neuropsicólogo, para que assim, qualifiquem sua compreensão de quais pacientes se beneficiariam de uma avaliação, encaminhamento e/ou trabalho em conjunto.

A infância e a adolescência são fases do desenvolvimento consideradas como janelas de oportunidades, pois durante esse período, o cérebro encontra-se em fase de maturação e com grande capacidade de neuroplasticidade. Além disso, em nossa cultura, essa faixa etária corresponde aos anos escolares, nos quais as funções cognitivas serão cada vez mais recrutadas, tanto para os processos de aprendizagem formal quanto para o desenvolvimento de autonomia e relações interpessoais saudáveis. As habilidades cognitivas mostram-se preditivas para as variáveis envolvidas na aprendizagem e, por consequência, possuem forte influência no desempenho escolar, econômico e social.

     

A avaliação dessas capacidades pode possibilitar o planejamento de estímulos mais adequados às necessidades e habilidades do indivíduo, além de reduzir consequentes disparidades sociais causadas pelas dificuldades nessas funções. Desta forma, o reconhecimento das potencialidades e dificuldades de uma criança ou adolescente é de grande importância para a construção de um ambiente propício para a aprendizagem. Assim, a avaliação neuropsicológica pode se tornar, além de uma ferramenta de auxílio diagnóstico e de tratamento, um instrumento de promoção de saúde, uma vez que vise a identificação e a prevenção de dificuldades que podem ter grande repercussão na realização pessoal e social do paciente. Para tanto, compreender o que vem sendo pesquisado e realizado com a população nessa faixa etária é necessário e imprescindível.

Referências: TISSER, Luciana (Org.). Avaliação Neuropsicológica Infantil. Novo Hamburgo: Sinopsys, 2017.

 

Assista ao Sinopsys Entrevista com Luciana Tisser, Psicóloga da Infância e Adolescência. Doutora em Neurociências.