Saúde mental: promoção do sentido da vida
07 de Outubro de 2022
A iniciativa de promover o sentido da vida como fator de proteção para a saúde mental e prevenção do vazio existencial é do psiquiatra vienense Viktor Emil Frankl (1905-1997), fundador da logoterapia, uma corrente da psicoterapia centrada no significado da existência.
A logoterapia foi constituída no âmbito da prevenção do suicídio entre jovens da cidade de Viena, Áustria, na década de 1920, quando, naquela ocasião, foi possível, por meio dos centros de aconselhamento para a juventude, atender escolares em situação de risco.
Na época, constatou-se a existência de uma falsa associação entre o desemprego, que gerava uma ausência de perspectivas futuras, e a falta de valor da vida, resultando em um niilismo privado.
À medida em que o jovem conseguia vislumbrar uma possibilidade de sentido, logo a sensação de que a vida possuía algum valor era restabelecida. Por consequência desse empreendimento, foram reduzidas bruscamente as altas taxas de suicídio em todo o país.
Uma primeira constatação extraída dessa experiência, segundo o autor, é que o niilismo não afirma que não existe nada, mas afirma que tudo é desprovido de sentido.
A partir dessa perspectiva, a logoterapia nasceu como uma escola específica para aplacar os efeitos do niilismo no ser humano, propondo uma terapêutica por meio da descoberta do sentido enraizada na própria existência.
RESPONSABILIDADE
Para superar o subjetivismo, Frankl defende uma educação para a responsabilidade: quando o ser humano se torna indubitavelmente responsável por algo ou por alguém no mundo, torna-se mais realizado existencialmente.
Nesse contexto, na visão do autor, a educação deve procurar não só transmitir o conhecimento, mas também aguçar a consciência, para que a pessoa recebe uma percepção suficientemente apurada, que capte a exigência inerente a cada situação individual.
Nessa perspectiva, a educação deve favorecer uma postura de conhecer e transformar o mundo. A própria palavra educar deriva do latim educare, que está relacionada ao verbo educere, formado pelo prefixo ex (fora) e ducere (conduzir, levar). Assim, educação significa, literalmente, conduzir para fora.
Na logoterapia, esse fenômeno é denominado autotranscendência, que sugere que o ser humano se humaniza quando está direcionado para alguém ou para algo.
Levando-se em conta essa perspectiva antropológica para o contexto da educação, considera-se que os educadores também necessitam refletir acerca de sua práxis para encontrar um sentido em ser educador e para reencontrar novas formas de ser educador.
LEITURA
“Prevenção e promoção em saúde mental: fundamentos, planejamento e estratégias de intervenção”, publicado pela Sinopsys Editora e organizado por Sheila Giardini Murta, Cristineide Leandro-França, Karine Brito dos Santos e Larissa Polejack, é um livro inédito no Brasil que contribui para suprir a lacuna existente na área e para fomentar reflexões e novos fazeres relativos à prevenção e à promoção em saúde mental.
Embasada em evidências, a obra apresenta os aspectos conceituais e teóricos, as etapas no planejamento de programas com fins de prevenção e promoção de saúde mental, as estratégias de intervenção que podem ser incorporadas e as experiências em contextos diversos.
Trata-se de uma fonte de conhecimento teórico e prático útil a estudantes e profissionais de várias áreas que lidam com saúde mental e seus determinantes.