Terapia metacognitiva: o que é e como funciona na prática?
02 de Abril de 2025
Para a terapia metacognitiva (MCT, do inglês metacognitive therapy), os transtornos mentais têm origem nas metacognições, o que difere dos outros pensamentos e crenças disfuncionais enfatizados na terapia cognitivo-comportamental (TCC).
Conforme o autor da MCT, o psicólogo britânico Adrian Wells, crenças negativas não necessariamente levam a padrões de pensamento e sofrimento emocional prolongado. Ele complementa que o padrão cognitivo visto em transtornos psicológicos tem característica repetitiva, cíclica e obsessiva.
Wells afirma que crenças irracionais específicas ou pensamentos automáticos breves são só uma pequena característica da cognição e podem ser de importância limitada, pois a maioria dos pacientes reporta longas correntes de atividade cognitiva incontrolável.
Portanto, em vez de identificar problemas emocionais com pensamentos automáticos, a abordagem vê estados internos problemáticos fortemente relacionados com processos inúteis de preocupação, ruminação e estratégias de controle mental.
Subdivisão
Metacognição se refere aos fatores cognitivos internos que controlam, monitoram e avaliam os pensamentos.
Pode ser subdividida em conhecimento (por exemplo, “devo me preocupar para conseguir lidar”), experiências (por exemplo, sentimento de saber) e estratégias (por exemplo, formas de controlar pensamentos e proteger crenças).
Uma ideia central é que fatores metacognitivos são cruciais em determinar os estilos de pensamento inúteis vistos em transtornos psicológicos que dão origem à persistência de emoções negativas.
Pura e híbrida
Na sua forma “pura”, a teoria metacognitiva sugere que crenças irracionais ou esquemas enfatizados nas teorias cognitivas são produtos de metacognições.
Metacognições direcionam a atenção, determinam o estilo de pensamento e direcionam respostas de lidar de uma forma que repetidamente dá origem a conhecimento disfuncional.
Essa visão implica que as metacognições, e não suas consequências, devem ser modificadas no tratamento.
Na forma “híbrida”, a teoria sugere que crenças metacognitivas existem ao lado de outras crenças guardadas sobre si mesmo e o mundo, mas como entidades separadas que são responsáveis por controlar a cognição e utilizar outros conhecimentos e crenças mais gerais.
Nesse caso, o tratamento pode reter um componente de desafiar crenças tradicionais, mas também deve lidar com as metacognições existentes.
Implicações
A abordagem metacognitiva tem implicações profundas para o tratamento tanto na forma “pura” como na forma “híbrida”. Ela guia em direção a estratégias que habilitam os pacientes a desenvolverem novos relacionamentos com seus pensamentos e suas crenças.
Em vez de questionar a validade dos pensamentos e crenças como a TCC tradicional, a MCT direciona o terapeuta para as metacognições que dão origem a estilos mal-adaptativos de pensamentos negativos repetitivos e difíceis de controlar.
Por exemplo, a abordagem metacognitiva para tratar o trauma presume que crenças metacognitivas e estratégias de controle que perturbam a autorregulação embutida são a razão pela qual os sintomas não se subsidiam naturalmente.
A tendência em se preocupar e remoer, fixar a atenção na ameaça e lidar evitando pensamentos interfere no processo de adaptação normal e leva a pensamentos sustentados sobre perigo e a uma persistência dos sintomas.
Portanto, o tratamento deve consistir em remover preocupação e ruminação, abandonando estratégias atencionais de monitoramento de ameaças e ajudando indivíduos a experienciarem pensamentos intrusivos sem evitação ou reação a eles com uma supressão inútil ou estratégias de pensamento.
Esse tratamento difere do tratamento normal da TCC, pois não envolve desafiar pensamentos ou crenças sobre o trauma ou exposição prolongada ou repetida a memórias traumáticas.
Em vez disso, consiste em relacionar-se a pensamentos de uma maneira diferente, banindo resistência ou análise conceitual elaborada, e suspendendo estilos de pensamento mal-adaptativos de preocupação, ruminação e monitoramento inflexível de ameaças.
Habilidades
Existem quatro habilidades básicas específicas que são importantes como base para construir o tratamento eficaz por meio da terapia metacognitiva.
A primeira diz respeito à capacidade do próprio terapeuta de compreender os diferentes níveis de cognição e poder transitar entre eles, isto é, fazer uma distinção entre o que é metacognição e o que é cognição “comum”.
Já a segunda é a capacidade de identificar os processos cognitivos desadaptativos que constituem a síndrome atencional cognitiva (CAS, do inglês cognitive attentional syndrome) em suas diferentes formas.
Por sua vez, a terceira habilidade é usar diálogo socrático com foco metacognitivo. E a quarta habilidade é aprender a implementar a exposição metacognitiva.
Lançamento
No livro ‘Terapia metacognitiva para ansiedade e depressão’, publicado em português pela Sinopsys Editora, Wells apresenta os princípios e as práticas dessa abordagem inovadora baseada em sólidas evidências científicas.
Com protocolos detalhados, o autor ensina como tratar de forma eficaz patologias como transtorno de ansiedade generalizada (TAG), transtorno obsessivo-compulsivo (TOC), transtorno de estresse pós-traumático (TEPT) e depressão severa.
Este guia completo ainda inclui planos de tratamento prontos para uso, ferramentas de avaliação e formulação de casos, além de exemplos reais para ilustrar cada etapa.