Você sabe o que é psicoterapia analítica funcional (FAP)?
05 de Outubro de 2023
A psicoterapia analítica funcional (FAP, do inglês functional analytic psychotherapy) trata da criação de relações terapêuticas em que o profissional se relaciona hábil e estrategicamente com os pacientes para criar um contexto de mudança.
A FAP é fundamentada em uma visão de psicologia e influência social que integra a ciência comportamental contextual (CBS, do inglês contextual behavioral science) com a crescente ciência da conexão social, incluindo como as conexões sociais afetam o funcionamento psicológico.
Sendo assim, a abordagem direciona o foco de trabalho sobre a relação terapêutica como meio de proporcionar mudança nas queixas trazidas ao consultório. Entende-se que o modo como o cliente age, fala e se coloca na sessão pode ser semelhante ao modo como ele o faz na sua vida cotidiana.
Os comportamentos que ocorrem ao vivo e a cores com o terapeuta e que têm relação com o motivo que levou a pessoa a buscar terapia são chamados de comportamentos clinicamente relevantes (CCRs). Esses comportamentos são o foco principal da FAP.
REVOLUÇÃO
Ao ser proposta pelos psicólogos norte-americanos Mavis Tsai e Robert Kohlenberg na década de 1980, a psicoterapia analítica funcional provocou certa revolução na análise comportamental da relação terapêutica.
A explicitação dos processos presentes na interação terapeuta-cliente, bem como suas decorrências, ofereceu aos profissionais melhor compreensão do processo e os ajudou a construírem instrumentos para atuar nesse campo de forma mais segura e eficiente.
Além disso, inúmeras pesquisas sobre aspectos específicos da relação terapêutica foram desenvolvidas desde então cujos resultados, por sua vez, impulsionaram a busca de conhecimento científico sobre outros processos e propostas terapêuticas.
CINCO REGRAS
A FAP é guiada, momento a momento, pelo pensamento funcional e ocorre por meio de cinco regras básicas a serem seguidas pelo terapeuta: observar o comportamento clinicamente relevante (CCR), evocar o CCR, reforçar o CCR2 (melhora em relação ao CCR1, que é o comportamento-problema), observar seu efeito e prover estratégias de generalização.
Observar e estar atento à emissão de possíveis CCRs é o início do processo terapêutico, moldando como os profissionais veem seus clientes e como irão desenvolver a conceitualização de caso. Essa primeira regra fundamenta todas as outras, e, tecnicamente, estar atento aos CCRs é sobre conseguir distinguir qual comportamento do cliente é um CCR1 e qual é um CCR2.
Após ter conhecimento de quais são os CCRs do cliente, o terapeuta deve criar uma atmosfera em que eles serão evocados (segunda regra). A relação terapeuta-cliente, principalmente no início da terapia, evoca os CCRs do cliente, dos quais espera-se que, com o progresso terapêutico, diminuam e abram espaço para os CCRs2.
REFORÇO
Por sua vez, a resposta contingente do terapeuta aos CCRs do cliente é o mecanismo de mudança da psicoterapia analítica funcional. Entende-se que reforçar de modo genuíno o CCR2 é eficaz, uma vez que é sabido que, quanto mais próximo no tempo e no espaço uma consequência for apresentada a determinado comportamento, maior é o seu efeito sobre ele.
Para os autores da FAP, a única maneira de o terapeuta saber se sua resposta foi reforçadora para o cliente, ou seja, se conseguiu aplicar a terceira regra, é observando seu efeito no comportamento-alvo. Uma estratégia possível para estabelecer a quarta regra é perguntar ao cliente como ele se sentiu após determinada fala ou momento na terapia.
GENERALIZAÇÃO
O objetivo da terapia é que a mudança de comportamento ocorra também fora da sessão, de modo que se mantenha e seja possível o próprio fim do processo terapêutico. Sendo assim, o terapeuta FAP deve auxiliar seu cliente na interpretação funcional de seus comportamentos-alvos em sessão para que ocorra essa generalização extraconsultório do repertório aprendido (quinta regra).
Estabelecer paralelos entre os comportamentos observados em sessão e os comportamentos da vida cotidiana do cliente auxiliam tanto na generalização dos ganhos ocorridos na sessão quanto na identificação de CCRs.