Suicídio: o que é posvenção e qual sua importância?

Posvenção é qualquer ato apropriado e de ajuda que aconteça após o suicídio consumado com o objetivo de auxiliar os enlutados a viverem mais, com mais produtividade e menos estresse que eles viveriam se não houvesse esse auxílio.

Engloba ações, atividades, intervenções, suporte e assistência para pessoas impactadas por um suicídio, ou seja, os chamados sobreviventes.

Sobreviventes são todas os indivíduos afetados e/ou que tiveram a vida mudada por um suicídio: pais, filhos, irmãos, familiares, amigos, colegas, etc.

Embora ainda pouco difundida no Brasil, a posvenção é uma ferramenta reconhecida mundialmente como um componente importante no cuidado da saúde mental dessas pessoas.

Tem como objetivos trazer alívio dos efeitos relacionados com o sofrimento e a perda; prevenir o aparecimento de reações adversas e complicações do luto; minimizar o risco de comportamento suicida nos enlutados por suicídio; e promover resistência e enfrentamento em sobreviventes.

Estudos demonstram diferenças significativas na intensidade, duração do luto, aumento de sintomas depressivos e impacto no sistema familiar nos sobreviventes do suicídio se comparado com outras mortes violentas.

Culpa, vergonha, busca incessante do motivo, sentimentos intensos de responsabilidade, rejeição e abandono, maior dificuldade em dar sentido para a morte, autoacusações, isolamento e mudanças na dinâmica familiar são alguns dos sentimentos e comportamentos comumente experienciados pelo sobrevivente.

Muitas vezes, amigos e familiares que, usualmente, dariam apoio e ajuda ao luto por outras causas, afastam-se e não sabem o que fazer, contribuindo ainda mais para a sensação de isolamento e abandono vivenciados pelos sobreviventes.

Sem ajuda apropriada, esses indivíduos, especialmente as crianças, podem experienciar um luto traumático e complicado.

A história do movimento de apoio aos sobreviventes começou na década de 1970, na América do Norte, com a fundação do primeiro grupo de apoio ao luto por suicídio. E em 1972, o psicólogo norte-americano Edwin Shneidman descreveu o conceito de posvenção como a "prevenção para futuras gerações".

A partir de então, diversos livros e estudos sobre sobreviventes começaram a ser produzidos e um grande número de grupos começou a se estabelecer em diversos países, como Canadá, Inglaterra, Estados Unidos e Suécia.

Em 2008, a Organização Mundial da Saúde (OMS) publicou, juntamente com a International Association for Suicide Prevention (IASP), o livro `Prevenindo o suicídio: como começar um grupo de sobreviventes`.

O termo posvenção foi introduzido no Brasil em 2011 com a dissertação de mestrado da psicóloga Karen Scavacini, e o primeiro curso a tratar diretamente do tema foi realizado pelo Instituto Gestalt de São Paulo (IGSP) sob coordenação e docência da psicóloga em 2012.

Neste mês, Karen lançou pela Sinopsys Editora o livro "Suicídio - Um problema de todos: Como aumentar a consciência pública na prevenção e na posvenção".

A obra traz no título sua questão principal ao afirmar que o problema atinge todos com diversas intensidades e não apenas aqueles com ideação e tentativa de suicídio e seus familiares e amigos. Portanto, é uma preocupação fundamental a de aumentar a conscientização pública sobre o tema.

A autora expõe ideias e estudos para informar e esclarecer a população diretamente afetada e aqueles que se aproximam do tema pela sua abrangência.

São inclusive arroladas propostas que podem fundamentar políticas públicas no Brasil sobre a prevenção do suicídio e, principalmente, a posvenção, a qual não é abarcada atualmente.

O livro é indicado a profissionais que queiram saber mais como falar de forma correta sobre suicídio, como aumentar a consciência pública e como transformar ideias em ações.

Também podem se beneficiar estudantes de diferentes áreas, assim como pessoas vivendo situações de sofrimento com ideação e tentativa de suicídio, familiares, amigos e todos que se envolvem com o tema.