Tarefas terapêuticas como ferramentas da psicoterapia
21 de Junho de 2021
As tarefas terapêuticas ou tarefas de casa são ferramentas muito importantes da psicoterapia, pois fundamentam o que foi trabalhado nas sessões e funcionam como extensões da mesma. Elas levam para o dia a dia do paciente as reflexões ou atividades que ajudam a alcançar as metas do tratamento.
Um processo psicoterapêutico busca promover mudanças ou habilidades no repertório comportamental do indivíduo que sejam úteis na lida com determinadas situações cotidianas. É crucial, portanto, que as aprendizagens obtidas em sessão ocorram também fora do consultório.
Pois é justamente onde entram as tarefas terapêuticas, que fazem com que o paciente utilize o tempo fora das sessões para novas experiências e exercícios corretivos de suas crenças disfuncionais.
ABORDAGEM
As tarefas de casa são mais frequentemente incorporadas na Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC), uma abordagem psicoterapêutica objetiva, diretiva e que tem uma estrutura clara.
Normalmente, o profissional da TCC segue uma ordem em todas as sessões psicoterapêuticas, o que inclui, entre outros itens, estabelecer uma agenda com o paciente, verificar seu humor, fazer e solicitar resumos dos assuntos tratados, verificar tarefas de casa executadas e solicitar novas.
As tarefas terapêuticas são uma das etapas da estrutura do tratamento na TCC, mas podem fazer parte de todas as etapas. Sendo assim, podem ser atribuídas desde a primeira sessão. Com base no que foi conversado na consulta, terapeuta e paciente combinam as tarefas que devem ser cumpridas para a próxima semana.
Tal iniciativa já comunica que o processo terapêutico é colaborativo e que o paciente tem um papel fundamental no processo de mudança ao realizar algumas atividades em sua rotina entre uma sessão e outra de psicoterapia.
PSICOEDUCAÇÃO E AUTOMONITORAMENTO
As tarefas de casa utilizadas com mais frequência no início do processo psicoterapêutico são a psicoeducação e o automonitoramento. Na psicoeducação, o terapeuta tende a passar como tarefas materiais psicoeducacionais para o paciente ler a respeito do problema apresentado em sessão, a fim de ensiná-lo sobre a origem do mesmo e sobre a abordagem comportamental de tratamento.
Já o automonitoramento refere-se à coleta de informações sobre as dificuldades do paciente para facilitar a compreensão dos comportamentos problemáticos e das variáveis que os controlam no contexto de vida diária, contribuindo para o planejamento do tratamento. Pode ser utilizado principalmente quando o indivíduo tem dificuldades para descrever seus comportamentos e eventos em que ocorrem.
No início do tratamento, as tarefas terapêuticas costumam ser mais diretivas, por meio da atribuição direta do terapeuta sobre algo a ser feito entre as sessões. É recomendado, no entanto, que o paciente seja encorajado a assumir um papel cada vez mais ativo com o progresso do tratamento, para que aprenda a identificar o que pode ser mais relevante fazer durante a semana, entre uma sessão e outra.
No decorrer da psicoterapia, é mais provável que ocorram tarefas de casa que contemplem técnicas específicas. Assim, a partir do momento em que cliente e terapeuta concordam sobre a análise das variáveis controladoras dos comportamentos problemáticos, técnicas específicas podem ser ensinadas para auxiliar o cliente a emitir comportamentos alternativos.
PLANEJAMENTO
É fundamental que o terapeuta planeje as tarefas terapêuticas de modo que elas facilitem progressos durante o tratamento. Isso quer dizer que o profissional pode elaborar metas graduais, começando com a solicitação de comportamentos mais simples e prováveis de serem reforçados ao serem executados e passando para comportamentos gradualmente mais complexos.
Também é importante que o terapeuta cobre e fale com o paciente sobre as tarefas na sessão subsequente à execução, salientando os efeitos reforçadores do comportamento alternativo, tornando mais provável que ele volte a ser emitido em outros momentos do cotidiano do indivíduo.
Além disso, o paciente tende a se comprometer mais fortemente com as tarefas de casa quando elas estão diretamente relacionadas ao conteúdo que foi trabalhado em sessão e também aos objetivos de longo prazo na vida diária, ou seja, aquilo que o indivíduo almeja por meio da psicoterapia.
Em resumo, as tarefas terapêuticas têm um papel importante à medida que criam condições para que o paciente desenvolva autoconhecimento sobre seus problemas ou seus comportamentos e para que ele experimente, pratique e tenha chance de obter consequências naturalmente reforçadoras para os seus comportamentos alternativos.