Terapia relacional-ética (TRÉ): o que é?

A terapia relacional-ética (TRÉ) — organizada em esferas por meio de um modelo de inclusividade estruturado nas dimensões relacional, ética e psicofísica — se baseia em uma visão holística do ser humano que inclui o confessionalismo. Nada do indivíduo está excluído desse paradigma de atenção e compreensão terapêutica que se expressa nos aspectos epistemológicos que combinam essa nova perspectiva.

Como um modelo terapêutico tridimensional e pneumatobiopsicossocial, a TRÉ está em fase de desenvolvimento teórico e de prática terapêutica desde 2003 a partir dos estudos do psiquiatra uruguaio Marco di Segni, especialista em logoterapia e análise existencial e mestre em ciências religiosas.

A terapia relacional-ética concebe o funcionamento da pessoa fundamentado em dimensões inclusivas e inclusas com base no esquema de logoterapia do neuropsiquiatra austríaco Viktor Emil Frankl e na ontologia dimensional. E analisa o ser humano na dimensão psicofísica, inclusa na dimensão ético-cultural, ambas inclusas na dimensão relacional-espiritual.

Nos últimos 20 anos, acumularam-se evidências de que a religião e a espiritualidade têm grande impacto sobre a saúde. As pessoas têm crenças espirituais e/ou religiosas que, muitas vezes, sustentam a esperança para enfrentar e melhorar as dificuldades.

Por isso, essa dimensão ingressa na holoterapia, em que o paciente desenvolve a sua espiritualidade, respeitando valores morais, gerando maior humanismo por meio da autotranscendência e aprendendo a amar, com a concomitante melhora dessa aprendizagem.

A TRÉ introduz a dimensão espiritual como chave de leitura do ser humano autotranscendente e considera que a espiritualidade inserida na psicoterapia melhora o paciente a partir da relacionalidade, orientando o sentido, vivenciando os valores.

A autotranscendência pressupõe ir ao encontro do outro (pessoas ou projetos) ou do Outro (Deus). No caso de pacientes não crentes, a análise é feita a partir da dimensão ético-cultural.

Historicamente a terapia relacional-ética surgiu como um modelo que considera os problemas do ser humano expressos em termos cognitivo-comportamentais a partir de um fundamento relacional-ético cristão, um sistema em tensão estruturado de acordo com uma conceituação de inclusão de dimensões, na pluralidade de aspectos que compõem essa perspectiva, em que a relacionalidade é o mais inclusivo.

No entanto, além dos ilusórios lampejos de uma definição que oferece promessas de compreensão e harmonia, nenhuma dessas duas qualidades pode se firmar se não for concebido um modo de agrupamento do modelo em que se veja satisfeita a concepção de dimensões distintas e complexas.

Em contrapartida, o modelo deve não somente abrigar, mas também valer como armação ou arquitetura polivalente, em que outras concepções confessionais (na dimensão relacional) ou outras escolas psicológicas (na dimensão psicofísica) possam ter cabedal para ocupar suas estruturas, visando serem aplicadas em benefício de pacientes com expectativas ou convicções diversas.

De outro modo, essa dimensão psicofísica, sem perder a sua autonomia, estará inclusa na dimensão ética, e esta, na relacional, por ser ela a mais abrangente e chave de leitura daquelas.

Em suma, cada dimensão, sem deixar de ser o que é, passará a estar, ao mesmo tempo, indissoluvelmente vinculada a outras, na qualidade de inclusas e/ou inclusivas, no ser humano compreendido, no lugar social em que vive.