Modelo transteórico de mudança e a dependência química
02 de Junho de 2022
O modelo transteórico de mudança (MTT) trouxe uma grande contribuição para os profissionais de saúde mental que trabalham com pessoas que têm comportamentos de risco, entre eles, a dependência química.
O abuso de substâncias psicoativas tem aumentado progressivamente nos últimos anos, tornando-se um grave problema de saúde pública e um fenômeno amplamente discutido.
Seu uso contínuo, mesmo diante de problemas significativos relacionados, gera sintomas cognitivos, comportamentais e fisiológicos.
Ocorre uma alteração básica nos circuitos cerebrais dos usuários que pode persistir mesmo após a desintoxicação, sendo observadas recaídas constantes e fissura intensa pela droga.
PROCESSO
As mudanças de comportamento ocorrem por meio de um processo no qual a pessoa passa a avaliar se "vale a pena" o tempo e o esforço necessários para mudar.
Em usuários de substâncias psicoativas, a mudança pode parecer uma tarefa difícil, já que a dependência química é considerada um hábito "mal aprendido" que envolve todo o estilo de vida.
Entretanto, o modelo transteórico de mudança reconhece que a motivação pode ser influenciada, ou seja, é passível de mudança, demonstrando que as pessoas passam a ser vistas como responsáveis pelas suas decisões e com capacidade de realizar mudanças com sucesso em suas vidas.
ESTÁGIOS
O MTT enfatiza a mudança intencional, ou seja, trabalha com a decisão de mudança em relação ao uso de drogas na qual as pessoas passam por diferentes estágios de motivação.
Esses diferentes estágios de motivação para mudança são divididos em: pré-contemplação (não ter consciência do problema), contemplação (considerar a possibilidade de fazer uma mudança), preparação (planejar a mudança), ação (fazer algo para mudar) e manutenção (trabalhar para manter a mudança).
Motivação e prontidão para a mudança são conceitos que representam elementos complexos e dinâmicos que se estendem por todo o processo de parar ou modificar o uso de drogas.
EFICÁCIA
Com usuários de substâncias psicoativas, intervenções baseadas no modelo transteórico de mudança têm se mostrado efetivas em relação à motivação, à redução ou cessação do consumo. Pode ser aplicado individualmente ou em grupos em tratamentos breves ou de longa duração.
A entrevista motivacional complementa o MTT e fornece um método para facilitar a mudança nos estágios iniciais mesmo com pacientes que ainda não estão prontos para mudar.
Além disso, técnicas cognitivas e comportamentais e de prevenção à recaída oferecem excelentes ferramentas para auxiliar pacientes em estágios mais tardios a alcançarem e manter a mudança.
LIVRO
O livro "Por que é tão difícil mudar? Contribuições do modelo transteórico de mudança do comportamento na prática clínica e na promoção de saúde" tem como organizadores os psicólogos Carlo DiClemente (um dos criadores do MTT), Margareth da Silva Oliveira, Raquel de Melo Boff e Milton José Cazassas.
Publicado pela Sinopsys Editora, reúne recentes resultados de pesquisa sobre a aplicação do modelo em vários contextos, as mais recentes estratégias de intervenção para avaliar as variáveis relacionadas a ele e ferramentas clínicas práticas para a implementação das intervenções.
A obra não só fornece orientação sobre como avaliar o estágio de mudança de um cliente, mas também como planejar e implementar as abordagens de tratamento corretas nos momentos certos para mobilizar os próprios processos de mudança que as pessoas usam em suas vidas diárias.
É um importante recurso para profissionais que querem combinar as intervenções com as necessidades dos seus clientes e, ao mesmo tempo, desenvolver fortes relações de colaboração que facilitarão mudanças significativas e duradouras.