Educação para a morte: quebrando paradigmas
21 de Junho de 2022
Não há respostas simples ou únicas para a morte. Durante grande parte da vida, as pessoas frequentam instituições educacionais e se preparam para lidar com questões sociais e para o trabalho, mas nada para esse momento.
INDIVIDUAÇÃO
A educação para a morte apresenta a possibilidade do desenvolvimento pessoal de maneira mais integral, no sentido entendido pelo fundador da psicologia analítica, Carl Gustav Jung, como individuação: o desenvolvimento interior pessoal que ocorre durante a vida e que também pressupõe a preparação para a morte.
Esse desenvolvimento não precisa ocorrer no topo de uma montanha ou dentro de casa em isolamento, mas, sim, em sociedade e durante toda a existência. Envolve comunicação, relacionamentos, situações-limites, fases, perdas de pessoas significativas, doenças, acidentes, separações e confrontos com a própria morte.
PARADOXO
O tema morte se tornou proibido no século 20, sendo banido da comunicação entre as pessoas. Paradoxalmente, nesse mesmo século, a morte esteve — e continua a estar no século 21 — cada vez mais próxima das pessoas em função, sobretudo, do desenvolvimento das telecomunicações, da internet e das redes sociais.
Os aparelhos eletrônicos introduzem diariamente, em todos os lares, cenas de morte, violência, acidentes e doenças sem possibilidade de elaboração, dado o ritmo de notícias e informações.
SILÊNCIO
Embora essas mortes estejam tão próximas, ocorre grave distúrbio na comunicação, o que é denominado de conspiração do silêncio, em que se evita falar sobre o assunto com temor de que cause sofrimento.
Nesse contexto, crianças e adolescentes convivem com imagens de morte todos os dias ao mesmo tempo em que são "poupados" para não sofrer. Observam-se pais que não sabem se devem falar sobre a morte de um parente próximo e professores diante de perguntas insistentes sobre mortes de ídolos, de pequenos companheiros ou amigos.
Da mesma forma, observam-se profissionais da saúde que se empenham em uma luta de vida e morte contra doenças e que veem seus empenhos frustrados sem saber como falar com seus pacientes e familiares sobre o agravamento da doença e a possível morte.
ESCOLAS
O tema morte é pouco abordado nas escolas, a não ser em situações específicas em que ocorre um evento envolvendo a comunidade escolar.
Por isso, há educadores que propõem que o assunto seja incluído na programação das escolas e tratado em algumas disciplinas, como filosofia, literatura, ética e biologia.
Eles também defendem a necessidade de educação para a morte com várias modalidades e estratégias, as quais devem ter como foco aspectos cognitivos e emocionais, facilitando a sensibilização diante de questões pessoais e cuidados psicológicos.
FORMAÇÃO PROFISSIONAL
Educação para a morte também é preparar profissionais da saúde para lidar com esse momento. Com a priorização da ação de salvar o paciente a qualquer custo no hospital, a ocorrência da morte ou doença incurável faz o trabalho da equipe de saúde ser percebido como frustrante, desmotivador e sem significado.
Por isso, é apontada a importância de disciplinas sobre o tema na formação desses profissionais como forma de prepará-los para lidarem com pacientes gravemente enfermos e com os cuidados no final da vida.
LIVRO
O livro Educação para a morte - Quebrando paradigmas", escrito pela psicóloga Maria Julia Kovács e publicado pela Sinopsys Editora, apresenta uma base para a contextualização da educação para a morte.
O objetivo é subsidiar trabalhos em instituições de saúde, escolares, residenciais para idosos e tantas outras em que o tema se faz presente no cotidiano. Trata-se da busca de autoconhecimento e de sentido da vida a partir do que a morte ensina.
A obra é indicada para estudantes e profissionais de diferentes áreas, como psicologia, medicina, enfermagem, nutrição, fisioterapia, terapia ocupacional, educação e assistência social.
A autora é professora do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (IPUSP), fundadora do Laboratório de Estudos sobre a Morte (LEM) do IPUSP e coordenadora do projeto Falando de Morte (filmes didáticos).